Chef faz estudo inédito sobre peixes não convencionais

Chef faz estudo inédito sobre peixes não convencionaisCom um laboratório na Praia de Guaratuba, em Bertioga (SP), rota de muitos cardumes, Fábio Leal cria semanalmente pratos com peixes não convencionais. Testa-os em suas aulas de gastronomia, na Mascarpone Escola de Sabores, em Santos. O conhecimento adquirido transfere aos restaurantes para os quais presta consultoria, apresentando pratos originais. Fábio Leal é um dos principais nomes da gastronomia da baixada santista. Estagiou com alguns dos principais chefs paulistanos e trabalhou nas cozinhas espanholas de Jerez de La Frontera, Málaga e Madri. Comandou restaurantes em São Paulo (o Ghiottone, em Moema) e na cidade de Aveiro, Portugal (La Mamma Roma, a convite do chef Alain Thiart).
Ele vem desenvolvendo há um ano uma pesquisa sobre peixes não convencionais, que trazem alternativas interessantes para o bolso e para o paladar do consumidor, mas que por razões como falta de informação e competitividade do mercado ainda não chegaram como poderiam à mesa dos brasileiros. Caiçara e cozinheiro, ele sempre ouviu que era preciso aumentar a presença destas espécies no dia a dia da mesa, mas que o alto custo era um grande empecilho. No ano passado, resolveu arregaçar as mangas e dar sua contribuição para tentar mudar um pouco essa história. Assim, buscou fontes de informação nas indústrias, no Instituto de Pesca e, junto às comunidades caiçaras, começou a catalogar peixes que não conhecia e a anotar curiosidades e receitas.

Cardápio e bolso O resultado tem sido um amplo estudo sobre peixes não convencionais, em constante atualização – e que pode fazer a diferença no mercado em um futuro próximo. “Temos uma variação incrível de desenvolvimento e alteração das características de cada peixe, assim como a influência do clima. Porém, o mercado acostumou-se a usar os nomes das espécies mais conhecidas para vender outras semelhantes, escondendo importantes diferenças em sabor, preparo e preço”, comenta. Fábio acredita que a maioria dos clientes nem sequer sabe da existência desses peixes e que uma das soluções para inverter este processo é explorar mais as receitas com os nomes corretos dos pescados, inclusive na elaboração de cardápios para restaurantes, uma de suas expertises. Entre os principais exemplos levantados pelo seu estudo estão o tamboril, hoje 100% exportado; o peixe-batata, muitas vezes vendido como namorado; e a cioba vermelha, um dos mais consumidos na Europa (lá conhecido como pargo) e pouco encontrado aqui, exceto no Nordeste, onde já é utilizado, com ótimo valor comercial e carne delicada e saborosa.

Além do custo/benefício, há outro fator que, na opinião de Fábio Leal, deve ser levado em conta na elaboração de um prato: a legitimidade. Ele defende que ao se fazer um prato ou vender um pescado, o chef ou estabelecimento deve se posicionar às claras. Isto evitaria situações inadequadas, como o consumo de salmão e truta salmonada sem qualquer diferenciação entre si – e ainda com predominância das espécies criadas em cativeiro e alimentadas com ração, normalmente em águas chilenas, mais gordurosas do que o original europeu, de propriedades bem superiores. Um exemplo comum que evidencia como o consumidor acaba sendo ludibriado pela necessidade do mercado em atender ao aumento da demanda.

Entre as receitas que mais têm feito sucesso estão a cioba vermelha recheada de farofa de camarão, boldo e creme de amendoim, a abrótea marinada no gengibre com batata cozida em linhaça dourada e o agulhão ensopado com banana-da-terra. Para os leitores do Degusta, uma opção especial do chef.

Vermelho cioba ao molho de manga e cardamomo, e aspargos al dente
(duas porções)

Ingredientes

2 filés do pescado; 1 limão; 1 colher de chá de sal grosso; pimenta-do-reino branca a gosto; aveia grossa para empanar ou farinha de aveia; aspargos. Para o molho de manga com cardamomo: 1 manga grande bem madura ou duas menores ; 1 colher de sopa de gengibre ralado; 3 colheres de sopa de azeite extravirgem a gosto; sementes de três cardamomos; sal grosso ou sal fino a gosto .

Modo de fazer

Fazer uma marinada simples e temperar o pescado, deixando por no mínimo 20 minutos e no máximo 30 minutos. Assim se tem um pequeno cozimento pela acidez do limão. Envolver todo o filé do pescado na aveia ou farinha de aveia grossa e bater levemente com as mãos para tirar o excesso da farinha. Em assadeira, passar azeite no fundo e colocar delicadamente os filés, colocando um fio de azeite sobre o pescado. Temperatura de 200 graus, tempo de forno máximo 30 minutos. Assim que começar a criar uma pequena crostinha da aveia sobre o peixe, aumentar a temperatura para máximo de 250 graus, a fim de obter mais crocância do empanado e, dessa forma, não precisar utilizar óleo para fritar. Aspargos: quebrar o talo onde não tiver resistência, segurando pelas pontas e dobrando como um galho de arvore, cozinhar em água quente com sal e uma rodela de limão até ficar quase ao dente. Retire do fogo e deixe cozinhar na temperatura dele, para finalizar o preparo al dente lentamente. Reserve em água fria. Molho de manga com cardamomo: descascar a manga, descartar o caroço e bater a polpa no liquidificador, reservar. Refogar o gengibre com azeite, sal e as sementinhas de cardamomo. Juntar a manga e aguardar ferver por dois minutos ao máximo na frigideira. Reservar. Assim que o peixe estiver no ponto, aqueça o molho e coloque por cima do pescado. Uma dica é não deixar o azeite entrar em ponto de fumaça para que ele não perca as suas propriedades.

Fonte: http://divirta-se.uai.com.br