Ufersa aplica tecnologia com barriga de aluguel na reprodução de peixes

Uma tecnologia ainda pouco comum, mas que vem se aperfeiçoando no Brasil está sendo difundida na Universidade Federal Rural do Semi-Árido. Trata-se do transplante de células germinativas (tronco) de uma determinada espécie (doadora) para outra (receptora), que irá desenvolver gônadas (testículos e ovários) que darão origem a larvas do doador. A técnica que vem sendo chamada popularmente barriga de aluguel visa aumentar a reprodução de espécies com baixo índice de fertilidade ou de maturação tardia.

Neste momento, a difusão dessa tecnologia na Ufersa é fruto da ação de extensão registrada na Proec com o título “Biotécnicas Reprodutivas Aplicadas à Piscicultura”, sob a coordenação do professor Marcelo Tubarão, do curso de Engenharia de Pesca, que possibilitou a vinda de pesquisadores da USP e da UNESP para Ufersa, em parceria com a empresa Piscicultura Tanganyka. É o caso de Túlio Teruo Yoshinaga, doutorando da FMVZ/USP e Arno Juliano Butzge, pós-doutorando do CAUNESP. “Essa é uma técnica muito viável na reprodução em cativeiro, como por exemplo, para desenvolvimento da aquicultura, através da barriga de aluguel usamos um hospedeiro para o manejo reprodutivo”, afirmou Túlio Teruo.

Outra vantagem é poder fomentar a atividade pesqueira, povoando com espécies marinhas que estão em declínio. “Uma ação de grande importância para toda a região costeira que depende da pesca”, justificou o discente, que trabalhou com equipe de pesquisadores japoneses ao desenvolverem a técnica para o Atum Azul e que estuda a parte imunológica do transplante com foco na sua melhoria.

Já Arno Butzge considera como uma possibilidade de salvar espécies em perigo de extinção ou mesmo produzir mais pescados. “Trata-se de uma tecnologia simples, porém promissora”, defende. O pesquisador que estuda os efeitos do aquecimento global na espermatogênese de peixes, afirma que a tilápia, pela facilidade de reprodução,  pode ajudar na perpetuação de outras espécies. “Trazer essa técnica para a Ufersa representa o objetivo do trabalho do pesquisador que é desenvolver e difundir ciência”, considerou.

Na Ufersa, inclusive, essa tecnologia vai ser aprimorada com uma tese de doutorado do discente Emanuel Lucas Bezerra Rocha, do curso de Pós-Graduação DAI/ Doutorado Acadêmico e Inovação do Cnpq: “a minha pesquisa tem o objetivo de realizar com sucesso o transplante de célula tronco em tilápia sendo barriga de aluguel para espécies de interesse comercial”, afirmou. Segundo o professor Marcelo Barbosa, seu orientador,  trata-se de uma técnica ainda considerada inovadora e com grande impacto, inclusive, podendo evitar a não extinção de alguns peixes já ameaçados de desaparecerem do ecossistema. “Além da questão ecológica, temos também a questão econômica por auxiliar no aumento da reprodução de espécies de grande valor comercial”, pontuou. O transplante de células germinativas precisa necessariamente de um doador e de uma outra espécie receptora (barriga de aluguel) que vai reproduzir as matrizes da espécie doadora.

Para o professor do curso de Engenharia de Pesca da Ufersa, Marcelo Tubarão, trazer essa tecnologia representa o desenvolvimento da região. “Hoje, temos muitas empresas que enfrentam problemas para reproduzir pescados em cativeiro e essa técnica com barriga de aluguel pode ser uma alternativa viável”, apontou Tubarão. A grande vantagem da transferência de células germinativas é que trata-se de uma tecnologia ambientalmente e economicamente viável. O professor Tubarão cita como exemplo a tilápia e a carpa, que podem ser barriga de aluguel para várias espécies de peixes. “Algumas espécies têm maturação sexual tardia entre 2 a 3 anos e com desova total apenas uma vez por ano”, exemplificou, bem diferente da tilápia que tem a primeira reprodução a partir de três meses e depois a cada 15 dias.

Tudo isto que está ocorrendo agora na Ufersa foi idealizado por Aline Gabriele Gomes da Silva, egressa do mestrado pelo programa de Pós-Graduação em Produção Animal, quando na época despertou o interesse por essa técnica de barriga de aluguel. Durante três anos, estudou e aprofundou no tema, realizando uma grande articulação com os laboratórios do Centro de Ciências Agrárias-CCA da Ufersa: SerTãoMar, Trima, Leme e Setor de Aquicultura, além de outras instituições de pesquisa a partir do contato do professor Ricardo Hattori.

A vinda e a ação dos pesquisadores de Campos do Jordão-SP para Mossoró consolidou um sonho meu quando realizei o transplante de células germinativas em larvas de tilápia, porém, esta é a primeira etapa de uma longa jornada que devemos enfrentar e que vai trazer resultados não só para pesquisa voltadas para aqüicultura, mas também para pesquisa na área da medicina humana, como por exemplo, o estudo com células cancerígenas utilizando peixes como modelo vivo  para descobrir o mecanismo de proliferação celular com foco no desenvolvimento de alternativas de contenção da doença”, afirmou Aline. O próximo passo dos pesquisadores será a busca de recursos para desenvolver pesquisas mais sofisticadas como acontece em outros países.

Fonte: https://www.aquaculturebrasil.com/