Seca prolongada ameaça peixes

 Seca prolongada ameaça peixes
Pescadores do Jundiaí estão preocupados com o futuro dos peixes, mas apostam na chuva / Foto: Jonny Ueda

“Enquanto tiver água, os peixes estarão aí”. A afirmação do zootecnista Alexandre Wagner Silva Hilsdorf, professor e pesquisador do Núcleo Integrado de Biotecnologia da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC), soa como tranquilizadora às pessoas, em especial aos pescadores mogianos, que se questionam: “Ainda há peixes nas represas”? A pergunta se faz num momento em que muito se fala sobre a crise da água no Estado, e que, agora, cogita usar o “volume morto” do Sistema Alto Tietê (Spat). Na sexta-feira última, o volume armazenado no (Spat) era de 23%; e a semana começara com o índice de 23,6 %, uma queda de 0,02% ao dia. O Spat é formado por cinco barragens: Ponte Nova, Taiaçupeba, Jundiaí, Biritiba e Paraitinga. O especialista que faz essa previsão otimista sobre a existência de peixes nas barragens do Alto Tietê é autor do livro “Peixes – Das Cabeceiras do Rio Tietê e Parque das Neblinas”, da Editora Canal 6, lançado em 2011 (leia mais nesta página).

Segundo ele, até o momento não foi registrado caso de mortandade de peixes em qualquer das represas do Estado de São Paulo, incluindo as do Sistema Cantareira que, desde maio, vem utilizando a sua reserva técnica (“volume morto”) para abastecer aproximadamente 9 milhões de habitantes. “Ainda não vi nada nesse sentido, mas, se não chover, o Sistema Cantareira, por exemplo, vai esvaziar e isso poderá começar a se tornar preocupante. Agora, parece que eles estão bem ‘apertados’, já que se encontram no chamado ‘volume morto’, mas não há problemas”, frisou. Por meio de nota, o Departamento de Águas e Energia Elétrica (DAEE), que opera o Spat, informou que não foi registrado nenhum caso de mortandade de peixes nos reservatórios do Sistema Alto Tietê.

O professor e pesquisador da UMC explicou que a mortandade ocorre quando há a queda de oxigênio na água, causada pela poluição orgânica. “Com o calor, o peixe não aguenta, mas não identificamos nada disso em razão da seca; isso só acontecerá quando começar a esvaziar. Aí, sim, vai faltar oxigênio, mas eles suportam até setembro, quando teoricamente vem a chuva. Mesmo assim vai ser preciso quase que um dilúvio para encher o Cantareira, porque a primeira chuva que cair vai servir só para molhar o solo. Mas o que eu percebo é que a última coisa que está se discutido é a situação do peixe”, disse Hilsdorf, com doutorado em Ciências e Livre-Docência em Recursos Genéticos. Atualmente, ele é professor livre-docente da UMC e coordenador do Laboratório de Genética de Organismos Aquáticos e Aquicultura da UMC.

Dentre as espécies encontradas ao longo de seis anos de pesquisa nas cabeceiras do Rio Tietê, Hilsdorf destacou que na Região se encontram peixes exóticos, como tilápia, traíra, lambari e até black bass (espécie americana), que, segundo ele, se adaptam bem com o ambiente de água parada. “Eles vivem bem e até se proliferam”.

“Os peixes estão lá. Pode ser que os pescadores tenham sentido um decréscimo nas pescas, mas essas espécies não têm escapatória, pois, de certa forma, elas estão lá, ‘presas’ no reservatório. Como aqui ainda não chegamos a utilizar o ‘volume morto’, não sei o que pode ocorrer até setembro, mas espero que esse quadro se reverta. Portanto, não creio que afete ao ponto de verificar mortalidade intensa”, observou ele, lembrando que muitas das espécies de peixes vivem no Rio Tietê. Ainda segundo o professor e pesquisador, na época de inverno, os peixes “ficam mais quietos” por serem espécies de sangue frio, os chamado exotérmicos, ou seja, a temperatura corporal dos peixes varia de acordo com a temperatura do ambiente. Nesse período, eles regulam a sua atividade metabólica, comem menos e crescem menos: “Talvez isso os estejam protegendo. Com a água mais fria, eles guardam mais oxigênio”.

Por fim, o zootecnista salientou que o Ministério Público exige das companhias que mantêm as barragens, medidas mitigadoras e compensadoras para amenizar o impacto causado pelos peixes migradores [conhecidos como peixes de piracema], que nadam contra a corrente. “Isso é necessário para que as fêmeas possam produzir os seus ovos, que, quando maduros, se encontram com os machos para a reprodução. Se há algum obstáculo no rio, não há como nadar. Em razão disso, é preciso que se construam mecanismos de transposição, como escada para o peixe, para que ele possa ultrapassar as barreiras e o repovoamento possa ser feito”, frisou o especialista, ressaltando que o impacto na vida do peixe começa quando há mudanças no ecossistema, como a criação de barragens, seja para a geração de energia ou abastecimento. (Maria Salas)

Fonte: http://www.odiariodemogi.inf.br