A criação de peixes e outras espécies aquáticas no país, prática até recentemente circunscrita a pequenos aquários ornamentais, evoluiu rapidamente de um “hobby” para uma actividade produtiva à escala nacional.
A aquicultura, designação dada à criação de espécies aquáticas, como peixes, moluscos, crustáceos, anfíbios e algas, é hoje praticada em grande parte do território nacional, do litoral ao interior. A operar no mercado estão hoje 35 empresas com uma produção que aumenta ano após ano.
Em 2013, o conjunto de empresas que actua no ramo produziu, na globalidade, 47 toneladas de chopas (tilápia), cifra que subiu para 305 toneladas em 2014 e 872 em 2015, como atestam as estatísticas da Direcção Nacional de Aquicultura.
Atento à celeridade com que cresce e se consolida este subsector das pescas, com benefícios notórios para as famílias e empreendedores, o Governo criou instrumentos de apoio às iniciativas privadas, que não param de aumentar. O interesse pelo negócio é tão grande que, neste momento, 103 novos projectos já aprovados pela Direcção Nacional de Aquicultura aguardam apenas por financiamento para começarem a ser executados.
Do total de projectos que aguardam financiamento, disse o director nacional de Aquicultura, 12 destinam-se à maricultura, criação de espécies marinhas em água salgada. “É um subsector da aquicultura de que não se conhecem iniciativas anteriores no país, pelo menos à escala industrial”, sublinhou António José da Silva.
Enquanto os projectos de iniciativa privada na área da maricultura aguardam financiamento, o Estado chamou a si o pioneirismo neste subsector de aquicultura. Em Março deste ano, deu início à construção de um centro de desenvolvimento de tecnologias para o melhoramento dos recursos pesqueiros em Angola, com enfoque para o repovoamento do carapau.
“A intenção é aumentar a biomassa de carapau, peixe muito consumido em Angola, mas cuja população conhece declínios cíclicos, com repercussões nas capturas, que são interrompidas de tempo em tempo para permitir uma maior reprodução”, disse António José da Silva.
O centro, que está a ser construído na zona dos Ramiros, em Luanda, com custos a rondarem os seis milhões de dólares, é um projecto comparticipado pela Coreia do Sul, com término previsto para meados do próximo ano. A infra-estrutura, a primeira do género no país, foi concebida para incorporar alojamentos, laboratórios, incubadoras, aquários, reservatórios de água e uma sala eléctrica.
O projecto inclui a formação de quadros na área de investigação e prevê o desenvolvimento de tecnologias para o melhoramento dos recursos pesqueiros no país, começando pelo carapau, antes de evoluir para os moluscos e crustáceos.
Ainda na área de capacitação de técnicos angolanos, em 2012, Angola assinou com o Brasil um acordo de cooperação para a formação em aquicultura e gestão de recursos pesqueiros, protocolo que os dois países prorrogaram, no último mês de Maio, por mais um ano.
O acordo entre o Instituto Angolano de Desenvolvimento da Pesca Artesanal e Aquacultura e uma instituição brasileira prevê o envio de técnicos angolanos aos centros integrados daquele organismo, onde durante seis meses aprendem, entre outras, técnicas de propagação artificial e de criação de peixes e conservação ambiental.
Combate à fome
As múltiplas vantagens que o negócio oferece contrastam, claramente, com o reduzido número de riscos que apresenta. “Quem coloca, por exemplo, 10.000 peixinhos num tanque tem a probabilidade real de, ao fim de quatro meses, colher igual número de pescado ou muito próximo disso”, assegura Paulo João Ferreira, gerente da Quinta Carioca, uma das fazendas na Funda, com grande potencial aquícola.
Outro factor que faz da aquicultura um negócio rentável, acrescenta Paulo João Ferreira, é facto de a actividade não precisar de muita mão-de-obra para muita produção. Para uma produção mensal à volta de 22 toneladas, a Quinta Carioca emprega apenas 25 trabalhadores, incluindo o pessoal administrativo.
Atento a tudo isto, o Governo achou por bem incluir a aquicultura na Estratégia Nacional de Combate à fome e redução da pobreza. Em Março deste ano, o Conselho de Ministros aprovou um programa para dois anos dirigido para o aumento da produção e promoção da exportação da tilápia (chopa).
Fonte: http://jornaldeangola.sapo.ao