Por que os ambientalistas odeiam a tilápia

Um dos peixes cujo consumo mais aumenta no mundo tem um lado obscuro pouco conhecido por quem aprecia sua carne branca e suave. No Brasil, projeto de lei traz polêmica à tona

São Paulo – Conta uma famosa passagem bíblica que, com apenas cinco pães e dois peixes, Jesus alimentou uma multidão de cinco mil pessoas. Estudiosos acreditam que os pescados, capturados por Pedro, eram tilápias, por ser o tipo mais encontrado no Mar da Galileia, em Israel. Do “milagre da multiplicação” originou-se o termo “St. Peter’s Fish” (Peixe de São Pedro), que dá nome a um dos produtos cujo consumo mais aumenta no mundo, impulsionado pela popularização nos EUA, na União Europeia e na China.

Tilapia

Foi num lance prodigioso de avanços comerciais e técnicos que a produção global de Tilápia mais do que dobrou na última década, passando de 1,5 milhões de toneladas em 2003 para 3,2 milhões de toneladas em 2010, devido principalmente à expansão da aquicultura. Nativo da África, esse peixe “invasor” foi trazido para o Brasil na década de 70. O animal, de carne suave e firme, se adaptou tão bem em nossas águas que, atualmente, representa, ao lado da carpa, outra espécie exótica, mais de 60% do cultivo de pescados em viveiro em todo o país.

Apesar do sucesso indiscutível, a produção ainda está longe de ser sustentável – o que explica a repulsa que gera nos defensores das causas ambientais. Uma série de estudos associa a criação de tilápias à riscos potenciais ao meio ambiente, que vão desde a deterioração da qualidade das águas à disseminação de parasitas. Consideradas as “galinhas aquáticas”, por serem fáceis de criar e crescerem rápido, as tilápias são comumente mantidas em ambiente natural dentro de tanques-rede no meio de lagos e rios.

Para turbinar a produtividade, elas recebem uma ração especial à base de cereais (como soja e milho) e hormônios de reversão sexual durante os primeiros 20 dias de vida. Além de garantir aumento de peso, essa alimentação transforma a maior parte da população de peixes em machos – que crescem quase três vezes mais do que as fêmeas.

O problema reside no que vem depois da digestão. Segundo Nilton Rojas, do Instituto de Pesca de São José do Rio Preto, restos de ração e excretas dos animais levam ao acúmulo excessivo de resíduos orgânicos e químicos, que, no longo prazo, pode causar eutrofização – quando corpos d´água, como rios e lagos, adquirem uma coloração turva ficando com níveis baixíssimos de oxigênio. Resíduos agrícolas, como agrotóxicos, e detergentes oriundos de lavagens domésticas e industriais, que liberam substâncias fosfatadas na água, contribuem intensamente para a deteriorização.

“Esse processo de poluição também chamado de “adubação” impede a entrada de luz, facilita a proliferação de algas e dificulta a sobrevivência de outros seres vivos no ecossistema aquático”, explica. A sedimentação da água também pode dar ao peixe um gosto ou sabor indesejável.

Fonte: http://exame.abril.com.br