Piscicultura – alimentação e desempenho produtivo

pisciculturaA nutrição dos animais é basicamente aquilo que os mesmos ingerem. Existem dietas mais ou menos apropriadas, que vão possibilitar ou não que eles desempenhem o papel que devem cumprir na vida. A Genética nos é atribuída com uma carga que só poderá manifestar-se caso a nutrição e os fatores ambientais como o estresse permitirem.

A dieta é composta pelo alimento que por sua vez é composto de nutrientes. Existem vários nutrientes componentes em um alimento: Proteína, Carboidratos, Lipídeos, Vitaminas e Minerais. Além destes nutrientes, todo alimento ainda comporta uma determinada umidade, que é de vital importância no tempo de conservação dos alimentos. Cada alimento apresenta determinada composição nutricional.

O ponto é que cada animal apresenta em sua anatomia e fisiologia características que o possibilitam estarem quebrando estes alimentos em partes que o organismo consiga aproveitar. Dependendo da fonte, podem haver alimentos não digestíveis à determinadas espécies, ou seja é importante que o alimento apresente em sua composição a digestibilidade.

Outro fator que se deve levar em consideração é a forma de apresentação das rações comercialmente disponíveis no mercado. Para cada fase de vida dos peixes existe uma granulometria adequada, ou seja, o tamanho do “grão” deve ser adequado ao tamanho da boca do animal. Se for grande demais o animal não vai poder engoli-lo rapidamente. Como foi dito, existem vários componentes nutricionais nos alimentos, dentre eles as vitaminas, que são classificadas como hidrossolúveis (vitaminas do complexo B, C e D) e lipossolúveis (A, D, E e K). Não obstante, cada uma delas deva figurar na composição dos alimentos em quantidades suficientes, as vitaminas hidrossolúveis, como o nome diz, solubilizam-se na água, o que nos obriga a fazer com que o animal ingira o alimento antes que isso aconteça. Por outro lado, se este pelete for pequeno demais os peixes terão de se deslocar mais para ingerir uma mesma quantidade de alimento, o que significa gasto energético.

Há pouco tempo as rações eram apresentadas sob forma de peletizada, processo em que havia a compressão dos componentes e conseqüente agregação dos mesmos. No entanto, essa compressão não era suficiente para manter a estabilidade dos “peletes” na água, o que comprometia a ingestão de todos os ingredientes de forma homogênea pelos peixes. Além disso os peletes afundam, o que não permite que se faça o controle de ingestão. O advento da extrusão, processo em que os ingredientes são submetidos ao aquecimento e uma pressão negativa abrupta, permitiu que os “grãos”, denominados então de extruders, flutuassem. Essa característica impulsionou a eficiência no manejo alimentar em piscicultura, principalmente pelo fato de podermos controlar visualmente se os peixes estão se alimentando (O manejo alimentar merece um capitulo a parte, o que será oportunamente abordado). Outrossim, o processo de extrusão, pelo fato de serem cozidos, disponibiliza alguns nutrientes que crus não seriam aproveitados pelo aparelho digestivo dos animais.

É comum verificarmos piscicultores que baseiam suas necessidades em termos de proteína contida na ração, levando em conta o teor protéico e o preço. Existe um conceito dentro da nutrição que se chama Conversão Alimentar (C.A .): quanto o animal converte de alimento em peso (kg de peso vivo). Pois bem, quanto maior a CA menos eficiente é o processo. Por exemplo: se para cada kg de peixe tivermos que fornecer 2 kg de ração, nossa CA é 2, se para cada kg de peixe fornecermos 1,4 kg de ração nossa CA é 1,4. Pelo exposto nos parágrafos acima podemos concluir que existem vários fatores que influenciam nessa nossa taxa.

Vamos supor que existam duas rações que estamos utilizando e que estas apresentem , como garantia do fabricante 32 % de proteína bruta (A princípio os alimentos de origem vegetal têm maior digestibilidade protéica). Estas rações apresentam respectivamente 32% de farinha de penas e 2% de farinha de penas – a farinha de penas é de origem animal, também apresentam 5% de farelo de soja e 38 % de farelo de soja. Os preços destas rações são respectivamente R$500,00/ton e R$536,00/ton. Espera-se no entanto que, pelas suas características nutricionais as CAs sejam de 2,8 e 1,6 respectivamente.

Normalmente as rações comerciais apresentam-se em sacos de 25 kg, assim a primeira ração vai estar em torno de R$12,50 e a segunda em torno de R$13,40. Existem sistemas de produção em que a ração é a única fonte de alimento para os peixes, o que imprime à alimentação maior impacto sobre os custos de produção. Assim, obviamente, quando da eleição da espécie a ser criada e o sistema de produção possível de ser adotado deve-se levar em conta também os custos inerentes. Além do mais, a utilização de alimentos com menor qualidade, diminui a qualidade de água pelo aumento da quantidade de dejetos e aumenta o tempo necessário para que se venda o animal, diminuindo o giro de capital. Como vemos, aparentemente, em uma cotação simples, a primeira ração estaria levando vantagem, no entanto, existem muito mais coisas entre a água e o peixe que permite supor a nossa vã filosofia.

É inegável, ainda, que o principal mercado para piscicultura, aquele que impulsionou a atividade no Brasil, são os pesque-pagues, o fato de adotarmos alimentos de melhor qualidade ainda tem a vantagem de, na hora da comercialização, termos o respaldo de animais saudáveis, nutricionalmente alicerçados, o que traz a garantia de um bom produto, que tem a confiança dos donos dos pesque-pagues (animais nutricionalmente carentes, tem maior possibilidade de sofrerem problemas de mortalidade durante o transporte e desenvolvimento de doenças posteriormente). Existe a possibilidade de alimentação de peixes com alimentos alternativos, sobras de alguma outra atividade, no entanto, estes alimentos não são nutricionalmente completos. Note-se aqui que a atividade é bastante segmentada, tendo transportadores envolvidos e que normalmente são prestadores de serviço, portanto mais um componente da cadeia produtiva que deve ser de confiança.

Deve-se considerar, ainda, que existem rações com diferentes níveis de proteína, conforme a fase de produção. A princípio as fases iniciais de vida são mais exigentes (por kg de peso vivo) do que nas fases finais. No entanto, tomando como base a fase de acabamento, o mercado tem fundamental importância no tipo de ração a ser utilizado. Quando temos um mercado propício, inerente, devemos apressar o acabamento e pode-se adotar uma ração com valores de proteína mais alto, o que nos permite um ganho de peso mais rápido, por outro lado se o mercado está desaquecido podemos imprimir menor rítimo de ganho de peso utilizando rações com menor concentração de nutrientes para esperar o preço.

Também é importante lembrar que a responsabilidade na utilização de ingredientes de qualidade na formulação de rações é dos fabricantes, no entanto o piscicultor empresário deve estar atento à sua realidade, e o que vai definir a sobrevivência na atividade tanto do piscicultor quanto das fábricas é o próprio mercado. O piscicultor deve fazer as contas primeiro e conhecer a idoneidade das fábricas para não se desmotivar. Por outro lado também é de responsabilidade deste a estocagem adequada da ração bem como a utilização correta das mesmas. O criador deve sempre utilizar controles zootécnicos, registros de desempenho e produtividade e trocar informações com outros piscicultores, que devem ser vistos também como fornecedores de informação e companheiros de atividade, mas isso é outro história.

Fonte: http://www.ruralnews.com.br