Peixe que come corais causa polêmica científica

Peixe que come corais causa polêmica científica
O Bolbometopon muricatum chega a medir 1,2m e pode pesar até 45kg

Ele é, de longe, a maior das espécies de peixe-papagaio do Oceano Pacífico.

Para completar, pesando até 45kg, costuma marcar presença em aniversários e casamentos da região.

Como prato principal, é claro.

O momento de consolo do Bolbometopon poderia ser a hora do lanche, quando saboreia bancos de corais.

O problema é que os petiscos prediletos desses inofensivos hermafroditas estão ameaçados de extinção.

Ameaças

O que fazer, então, quando uma espécie ameaçada é um risco para outra?

“Eles se alimentam diretamente destes corais”, afirmou o professor Douglas McCauley, da universidade da Califórnia Santa Bárbara, um dos maiores especialistas sobre bolbometopon.

Peixe que come corais causa polêmica científica
Os peixes-papagaio gigantes se alimentam rotineiramente de corais vivos no Pacífico

“Eles são suficientemente grandes para se chocar contra os corais, quebrar um pedaço e processar essas pedras vivas. E comem toneladas de coral vivo ao longo do ano. Realmente, reduzem a diversidade dos corais.”

Os corais já são ameaçados por fatores que vão do aquecimento e da acidificação das águas oceânicas ao desenvolvimento e exploração.

Como se isso não bastasse, hordas de bolbometopons os devoram vorazmente.

Mas os peixes-papagaio gigantes não são de todo maus para os delicados corais.

“Os bolbometopons são um tanto displicentes quando comem. Quebram dezenas de pedaços que não chegam a comer. Acreditamos que essas partes, ainda vivas, funcionam como dispersão, de forma parecida a pássaros que se alimentam de frutas e dispersam as sementes.”

‘Elefantes dos corais’

O professor McCauley os classifica de “elefantes dos corais”.

A comparação com os conhecidos gigantes das savanas é mais do que apropriada, ele diz.

Ambas foram listadas na mesma categoria de risco pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). Ambas têm impactos violentos sobre o meio ambiente, e nem sempre positivos.

McCauley afirma que as preocupações sobre o futuro dos elefantes e de outros animais ameaçados levam biólogos a relutar na hora de dar destaque aos contras, em comparação com o que dão aos prós.

“Alguém poderia se aproveitar da manchete: peixes-papagaio gigantes ameaçam a biodiversidade. Ou elefantes reduzem as florestas. Só que isso pode ser perigoso.”

“Apesar das dificuldades, acho que a saída é tentar reportar de forma mais ampla, toda a complexidade da história”, ele disse à BBC.

Do ponto de vista da conservação, uma solução possível seria a criação de parques nacionais específicos na África e em outros locais.

Mas, uma vez que as populações de elefantes se recuperam nestas áreas protegidas, elas podem virar uma ameaça a outras espécies e à biodiversidade.

Da mesma forma que com os bolbometopons, a pergunta é: como salvar a espécie sem destruir o valioso ecossistema no qual vivem?

Fonte: http://www.bbc.co.uk