A disparada dos preços e o crescente apetite por espécies nobres desencadeiam um forte crescimento na aquicultura.
A acentuada migração rumo à criação de peixes em cativeiro resulta da sólida demanda por peixes e frutos do mar, estimulada pelos benefícios proporcionados à saúde pela ingestão de peixe e pela alta do consumo no mundo desenvolvido.
Segundo a Agência para Agricultura e Alimentação da Organização das Nações Unidas (FAO, nas iniciais em inglês), o consumo per capita de peixe criado em cativeiro deverá crescer 4,4%, em 2014, em relação a 2013, para 10,3 quilos, superando pela primeira vez o consumo de peixe proveniente de pesca extrativista.
“A aquicultura não apenas se tornou uma realidade em sua contribuição para a nossa alimentação; agora estamos ingerindo mais de seu produto do que do peixe selvagem”, diz Audun Lem, da FAO.
O aumento da demanda ocorre num momento em que os preços do peixe criado em cativeiro subiram para patamares recorde. As cotações mundiais de peixes – tanto os criados em cativeiro quanto os selvagem – deram um salto para os maiores níveis de todos os tempos, uma vez que o apetite crescente por variedades mais caras esbarra na queda da produção em decorrência de doenças e outras questões ligadas à oferta.
Ao mesmo tempo em que a demanda em mercados tradicionais como o do Japão, um dos principais importadores de peixe e frutos do mar, enfraqueceu, o consumo dos EUA e da Europa se expandiu, em parte em decorrência da ainda incipiente recuperação da economia. Além disso, compras de países como México, Brasil, China e de algumas nações africanas também sustentou a demanda. “A única maneira de atender essa nova demanda é a aquicultura”, diz o analista Gorjan Nikolik, do Rabobank.
A escassez de oferta, por seu lado, afetou algumas espécies de pescado criados em cativeiro. Entre elas estão o salmão e o camarão, atingidos por doenças e pelos efeitos da mudança climática. Ao lado disso, as populações de espécies selvagens sofrem reduções devido à sobrepesca, à poluição e às mudanças climáticas.
A situação da pesca selvagem esteve na agenda, na última semana, da reunião bienal promovida pela FAO de ministros da Pesca, executivos do segmento e organizações não governamentais, em Roma.
A expansão da produção de peixe em cativeiro também deverá apresentar suas dificuldades. Haverá persistente pressão altista sobre os preços das rações, que têm alcançado altos patamares devido à queda da captura de anchovas e de outros pescados pequenos usados como alimento para os peixes. A limitação das áreas autorizadas para a montagem de viveiros de peixes e as restrições em termos de abastecimento de água impõem limites de ordem logística.
O problema mais grave é a expansão das doenças que afetam os peixes criados em cativeiro. A indústria de camarão do Sudeste Asiático foi atingida pela síndrome da mortalidade precoce, enquanto a de salmão chilena foi afetada por um vírus. Os preços da ostra na Europa dispararam devido às quedas de produção registradas na França, afetada por um vírus da herpes.
Lem diz que o desafio para a aquicultura é introduzir bons processos de criação. “O setor agrícola trabalha nisso há centenas de anos, mas a aquicultura conta apenas com umas poucas gerações para enfrentar a questão”, afirma ele.
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br