O cultivo intensivo de peixes exige uma série de conhecimentos para ser sustentável, principalmente da biologia da espécie e de boas práticas, incluindo estratégias para a prevenção de doenças, bem como o manejo alimentar que possa ser adequado de acordo com as características de cada espécie. A produção de bagres carnívoros se desenvolveu rapidamente no Brasil. Dessa forma, uma equipe de pesquisadores da Embrapa e de outras instituições parceiras estudou as peculiaridades biológicas e as principais doenças desses peixes buscando elaborar um programa sanitário eficiente.
Um dos grandes desafios é reduzir as perdas na produção relacionadas com manejo inadequado que evoluem para doenças infecciosas e parasitárias. O aparecimento de uma enfermidade está diretamente relacionado com falhas no manejo, na alimentação e na ausência de um programa nacional de rastreio sanitário.
Com o desequilíbrio na integridade biótica do ecossistema aquático, variações nas comunidades de peixes e seus parasitos refletem a perda da qualidade ambiental, já que os parasitos tem potencial para responder como indicadores de estresse ambiental ou baixa qualidade de água.
A pesquisadora Márcia Ishikawa, da Embrapa Meio Ambiente (Jaguariúna, SP), cuja principal linha de atuação é doenças de peixes, desenvolve também um trabalho com bioindicadores, considerando a parasitofauna e o perfil hematológico dos peixes.
“O parasitismo pode causar baixo crescimento e alterações nas células sanguíneas, ou seja, no hemograma. No cultivo intensivo, estas alterações podem afetar a resistência à doenças tornando os hospedeiros mais susceptíveis ao estresse ambiental”, explica Márcia.
“Estudos mostraram que propriedades que utilizavam vísceras de peixes, ração artesanal, arroz cozido e sobras de restaurante tiveram a qualidade da água prejudicada, além da ocorrência maior de peixes parasitados por tricodinídeos, Monogenoidea e crustáceos copépodes”.
Parasitos e bactérias tem sido os principais patógenos diagnosticados em estudos realizados a campo em diferentes unidades produtoras. No entanto, na maioria das vezes, essas parasitoses e bacterioses causam grandes mortalidades, somente quando estão associadas a baixa qualidade da água e falhas no manejo.
O conhecimento dessas doenças, bem como suas relações com o ambiente e o hospedeiro (peixe), são passos iniciais para o desenvolvimento de estratégias de controle e erradicação mais eficientes.
“É difícil quantificar os impactos econômicos e ambientais causados pelo manejo inadequado, explica Márcia, posso apenas afirmar que é muito grande. Se considerarmos apenas a mortalidade dos peixes decorrente desse manejo inadequado, já podemos perceber a grandeza do problema e se considerarmos as perdas na qualidade do produto final, então, é maior ainda”.
Márcia também analisou surubins híbridos e peixes nativos, na região de Mato Grosso do Sul. Considerando o potencial de produção que os surubins possuem pela qualidade de sua carne e rápido desenvolvimento em cativeiro, é necessário que uma pesquisa se desenvolva em conjunto com todos os elos da cadeia produtiva. A troca de informações entre o setor produtivo e instituições de pesquisa é fundamental na busca de alternativas que minimizem as perdas por mortalidade em qualquer fase da produção.
A pesquisadora informa que publicou em 2012, juntamente com pesquisadores da Unesp de Jaboticabal, Mar & Terra Indústria e Comércio de Pescados SA, Universidade Federal da Grande Dourados e Universidade Federal de Santa Catarina, o documento”Biologia e estratégias na sanidade de alevinos de bagres carnívoros”, disponível pela livraria Embrapa (www.embrapa.br/publicacoes).
Nele, os produtores de bagres carnívoros encontrarão novas abordagens e dicas para obter mais eficiência produtiva, uma vez que não se obtém animais saudáveis sem proporcionar as condições básicas relacionadas à sanidade e à sua biologia.
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br