Paraíso das águas compra peixe de outros estados

Alagoas é rico em pescado, mas falta de incentivos impede autoabastecimento

Alagoas é dono de um litoral com aproximadamente 230 quilômetros de linha de costa, sendo dividido em Litoral Norte, central e sul. Se tem peixe no Estado? Peixe é o que não falta, seja de água doce ou salgada. Mas pescadores e distribuidores de pescado afirmam que, em vez de o Estado se autoabastecer, os alagoanos têm que buscar fornecedores de fora se quiser ter o tradicional peixe na mesa ou vendê-lo nos supermercados. A falta de investimento na área de pesca e a manutenção de técnicas rudimentares pelos pescadores são apontadas como as principais causas da importação do pescado para abastecer Alagoas.

pescados

De acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA), a produção de peixes em Alagoas registrou um aumento de cerca de três mil toneladas de pescado no período de três anos, muito embora a forma de pescar dos alagoanos ainda não tenha evoluído e continua sendo do século XX. Os dados foram publicados em setembro do ano passado e se referem aos anos de 2008, 2009 e 2010, respectivamente. As estatísticas de 2011 e parcial 2012 ainda não foram concluídas.

Em 2010, foram pescadas 19.240 toneladas de peixes contra 17.479, em 2009, e 16.373, em 2008. Embora os números anunciados pelo MPA sejam expressivos, o fiscal da Balança da Zona 1 da Praia da Pajuçara, Gilberto José dos Santos, contesta os dados divulgados, e argumenta que a quantidade produzida por ano seria bem inferior ao destacado.

“Os pescadores passam muitas dificuldades para garantir o sustento e a primeira delas é a falta de investimento para estes profissionais”, apontou. “Um pescador para conseguir tirar do mar o equivalente a 270 quilos de pescado tem que passar uma média de seis dias no mar e olhe lá”, rebateu.

COM INVESTIMENTO
Pescadores de outros estados se interessam por Alagoas

O fiscal da Balança da Zona 1, da Praia da Pajuçara, Gilberto José dos Santos, relevou que tem 30 anos na balança da Pajuçara, e que nunca viu nenhuma equipe do Ministério ou Secretaria da Pesca fazendo medição, pesagem ou qualquer coisa do tipo na produção do pescado alagoano. “Antigamente, o pessoal do Instituto do Meio Ambiente (IMA) fazia um controle, mas isso faz muitos anos”, reclamou.

Seu Gilberto falou que peixe não falta no mar, porém o que falta mesmo são investimentos para a pesca de alto nível. Ele lembra que a maioria dos pescadores alagoanos vive da pesca artesanal, isto é, de pesca arcaica onde é preciso pegar o peixe com alguma isca viva.

O fiscal revela que muitos pescadores que têm condição de arcar com grandes investimentos estão saindo de outros estados com destino a costa alagoana que, segundo ele, é enorme e pouco explorada.

“Nós não temos condições de pescar em grandes quantidades porque, primeiro, nossos barcos são minúsculos, com pouco mais de três metros. Quando pescamos peixes grandes e pesados temos que passar horas no mar até que o peixe canse para voltarmos para a terra”, destacou Gilberto Santos. “O maior barco da Zona 1, na Pajuçara, tem nove metros e é de fibra, a maioria nem dispõe de rádio-amador”, contou.

INFORMALIDADE
Sem nota fiscal, profissionais não ganham o mercado

“Os supermercados trazem [o pescado] de fora para o Estado [de Alagoas] porque a gente não é legalizado e não possui nota fiscal”, mencionou seu Manoel Messias, representante da Associação da Colônia de Pescadores da Lagoa Mundaú.

Para o presidente da Colônia, a lagoa sempre está para peixe, pois embora às vezes falte, tem o camarão, tem o caranguejo, entre outras espécies de crustáceos para pescar. “A dificuldade maior é no inverno, porque não temos o seguro defeso e ficamos à procura de uma cesta básica”. A quaresma é o melhor período para a venda do pescado, pois a categoria, segundo Manoel Messias, fatura o bastante para guardar quando está no aperto. “Eles trabalham muito, porém sabem administrar”, completa.

Ele lembrou que com a ajuda do governo federal, os pescadores tiveram a oportunidade de investir em redes, canoas, entre outros objetos de pesca.

Fonte: http://www.tribunahoje.com