Nova tragédia no Castanhão: mortalidade atingiu 80% da produção; produtores culpam Cogerh

Castanhão_mortalidade-640x215

Praticamente um ano depois da mortalidade massiva de tilápias no açude do Castanhão, no Ceará, a tragédia voltou a acontecer, como relataram diversos veículos regionais (aqui e aqui). E, ao que indicam os produtores da região, de maneira ainda mais avassaladora que em junho de 2015, quando morreram mais de 3 mil toneladas de peixes.

No fim de maio deste ano, piscicultores começaram a verificar alguns episódios de mortalidade massiva e então iniciaram um movimento de deslocamento dos tanques para áreas supostamente mais seguras. “Desde maio começamos a correr com os tanques de um lado para outro. Mas essa mancha escura é que nem cachorro bom de caça, porque ela caça o peixe até matar”, lamenta Edivando Feitosa, piscicultor e presidente da Associação dos Criadores de Tilápia do Castanhão (Acritica).

A entidade representa 50 piscicultores concentrados principalmente na margem esquerda do Castanhão, próximos à cidade de Jaguaribara (CE), que o IBGE apontou em 2015 como a cidade que mais produz tilápias no Brasil (16,92 mil toneladas produzidas em 2014). Esta região foi a principal afetada com a mortalidade registrada em 2015, que gerou prejuízos estimados em R$ 21 milhões.

A mortalidade deste ano, segundo Feitosa, atingiu também os piscicultores situados na margem direita, próximo à cidade de Alto Santo (CE). “Nossa estimativa é de que 80% da produção do Castanhão foi dizimada”, diz. Ele informa ainda que, por conta da mortalidade de 2015, os produtores já estavam com uma produção 50% menor que no ano passado.

Para Roberto Colares de Holanda Júnior, secretário de infraestrutura e urbanismo de Jaguaribara, a tragédia não tem recebido a devida atenção das autoridades. “O que aconteceu aqui é uma catástrofe muito grande e tem muito pouca gente interessada em colaborar. A ajuda da prefeitura é irrisória, precisamos de assistência técnica para retirar as gaiolas, remover os peixes, até ajuda psicológica e assistente social para auxiliar os piscicultores, que estão endividados e agora não conseguirão pagar o que devem”, avalia.

Feitosa confirma que, até o momento, o único auxílio do poder público veio da prefeitura de Jaguaribara (apoio na remoção dos peixes) e da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará (Cogerh), que enviou duas caçambas e uma pá carregadeira para a remoção dos peixes que ainda estão nas margens do Castanhão. “Até hoje estamos tirando peixe do açude. De dentro d’água já retiraram praticamente tudo, o resto está na margem. E a retirada é lenta, acontece caçamba por caçamba”, explica Feitosa.

Causas da tragédia

Tanto a Acritica quanto o secretário Colares atribuem a mortalidade a uma manobra realizada pela Cogerh nas válvulas dispersoras que controlam a vazão da água que abastece o Castanhão – o maior reservatório do Ceará, com 6, 7 bilhões de m³ de capacidade, que está com 8,99% do nível total.

A operação consiste em abrir as válvulas de modo a aumentar a vazão de água para garantir que a água percorra toda a extensão do açude e chegue a cidades mais distantes, como na região metropolitana de Fortaleza. Para os produtores, esta manobra revolve o fundo do açude, criando uma mancha negra de sedimentos que diminui drasticamente a oxigenação da água, matando os peixes.

Em relatório apresentado aos piscicultores, segundo Feitosa, a Cogerh confirma ter realizado duas vezes a manobra citada. “Em 09 de maio foi a primeira. A vazão estava com 4,97 m³ por segundo, elevaram a 17,5 m³ por minuto. A segunda foi em 20 de maio, quando fizeram a mesma elevação”, relata Feitosa.

Em nota técnica enviada à Seafood Brasil, a Cogerh não menciona explicitamente a manobra como causa da mortalidade. Diz apenas que “as condições ambientais do Castanhão durante o levantamento evidenciam que as variações na qualidade da água, como a queda dos teores de oxigênio dissolvido, podem ser decorrentes tanto de características naturais do reservatório, como regime hidrológico, variação climática e dinâmica de circulação de correntes, como podem ser oriundas das formas de uso das águas do reservatório, como agricultura, pecuária, processo de lixiviação do solo, efluentes sem tratamento, resíduos sólidos, decomposição vegetal e piscicultura, bem como a operação de volumes liberados.

O texto faz menção ainda ao reservatório Orós, distante cerca de 85 km do Castanhão, que também teria apresentado ocorrência de mortandade para o mesmo período descrito. “A desoxigenação das águas que levou ao episódio de mortandade de peixes é um cenário de difícil diagnóstico, mas que precisa da articulação das mais diversas instituições e órgãos dos recursos hídricos e do setor aquícola”, diz a nota.

Fonte: http://seafoodbrasil.com.br/