Mapeamento do Sebrae revela o boom da produção de tilápia

Mapeamento do Sebrae revela o boom da produção de tilápia
Nordeste é líder na criação do peixe (Foto: Ernesto de Souza/Ed. Globo)

A tilápia é hoje a espécie de peixe mais cultivada no Brasil, representando 47% da produção nacional. Seu ganho de peso rápido, 800 gramas em seis meses, fez ela se tornar a queridinha dos piscicultores. De 2007 a 2011, a produção de tilápia no Brasil saltou de 95 mil toneladas para 254 mil, sendo a região Nordeste a líder na produção. “Sua carne suave tem ajudado o brasileiro a criar o hábito de consumir peixe”, diz Ênio Queijada, gerente da unidade de agronegócio do Sebrae.

O peixe é a proteína animal mais consumida no mundo com um consumo per capita de 18 quilos/ano. O Brasil está na casa dos 14 quilos/ano, ultrapassou os 12 quilos/ano recomendados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), mas tem espaço a crescer. Por aqui, as proteínas mais consumidas são: carnes bovina e de frango, ambas com 41,8 quilos por brasileiro/ ano e carne suína (15 quilos).

Originária da África, a tilápia chegou no país em caráter experimental no século XIX, mas sua propagação aconteceu em 1970, quando o governo apostou na espécie para povoar os açudes da região Nordeste. Mas o mau manejo resultou em peixes pequenos com sabor de barro, que não agradaram o paladar do consumidor. A história começou a mudar à medida que o brasileiro foi se inteirando das técnicas de cultivo. Os piscicultores descobriram que para fins comerciais as fêmeas precisavam ser descartadas porque começam a se reproduzir a partir dos dois meses e gastam muita energia na reprodução, o que resulta em pouco ganho de peso.

De acordo com o Mapeamento do Cenário Mercadológico da Aquicultura no Brasil feito pelo Sebrae, a espécie apresenta inúmeras vantagens: elas aceitam proteína de origem vegetal; são resistentes ao manejo em alta densidade e baixo nível de oxigênio; possuem bom desempenho produtivo, alcançando e de 600 a 800 gramas entre quatro e seis meses de cultivo; os alevinos são produzidos o ano todo e são resistentes à amplitude térmica da água, que pode variar de de 15ºC a 32ºC, sendo o intervalo ideal entre 26ºC a 30ºC. “Por esta versatilidade, ela é conhecida como frangos das águas”, diz Queijada. “O pirarucu não é assim, se a temperatura da água baixar para menos de 20ºC, ele sofre e a mortalidade aumenta”, diz Queijada.

Melhor Retorno

A Associação Comunitária de Jurema, em Orós, no interior do Ceará, deve a melhoria da qualidade de vida de seus habitantes à tilápia. Formada por 60 famílias de trabalhadores rurais, o povoado se engajou num Programa de Piscicultura do Governo em 2004.

Eles foram divididos em sete grupos para aprender a cultivar a tilápia. A produção logo se iniciou no açude que leva o nome da cidade, Orós. Hoje só a Comunidade Jurema tem mais de 3 mil tanques rede, o que no ano passado repercutiu numa produção de 115 mil toneladas. “Hoje, 80% da renda da comunidade vem da criação de tilápia”, diz o piscicultor José Venâncio Pereira, presidente da associação local.

A produção é vendida para a merenda escolar, via Programa de Aquisição de Alimentos (PPA), para o comércio local e também para atravessadores. O filé sai por cerca de R$ 17, já os atravessadores levam o peixe vicerado por cerca de 6,25 a tilápia grande. “Agora queremos chegar ao consumidor final. Queremos ter SIF e estamos com um projeto de frigorífico que terá a capacidade de processar entre 5 e 6 mil toneladas por dia”, diz Pereira.

Peixe na Rede

Houve um tempo em que a tilápia não era bem vista pelos brasileiros por causa do sabor de barro, decorrente do mau manejo. O preconceito persiste em cidades como São Paulo, o que faz muitos restaurantes usarem o nome gringo da tilápia: Saint Peter.

Em Brasília, a tilápia caiu no gosto dos habitantes. Prova disso é o restaurante Peixe na Rede que trabalha exclusivamente com a espécie. O empreendimento começou em 2004 num estabelecimento de 10 mesas e hoje é uma rede com 11 restaurantes em Brasília com os mais diversos pratos à base de tilápia. A adaptabilidade do peixe ao clima nacional tem despertado à atenção de grandes players. O JBS Friboi, por exemplo, sinalizou a possibilidade de investir na criação de tilápia em Tocantins.

Fonte: http://revistagloborural.globo.com