“superpeixe”

Pesquisadores da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e de outras 17 instituições de pesquisa iniciaram um mutirão para baratear a produção e popularizar o consumo de peixe e camarão no Brasil. Mais ou menos como foi feito com o frango, há 20 anos.

Batizado de Aquabrasil, o projeto está fazendo um amplo trabalho de melhoramento genético com as quatro espécies consideradas mais aptas e viáveis economicamente no país: tilápia, cachara, camarão-branco e tambaqui.

Antes de começar o processo de reprodução, cada animal é analisado. Os cientistas removem um pequeno pedaço da barbatana, que passa por um exame de DNA para determinar a composição genética do pescado.

Depois, os bichos com as características consideradas mais desejáveis são selecionados. Normalmente, há preferência por cruzamentos entre animais geneticamente mais distintos entre si.

Isso contribui para que os alevinos e futuros descendentes sejam mais resistentes a algumas doenças.

“Todas as culturas que têm grande aceitação no Brasil, como a soja, o milho e até o gado bovino, passaram por longos processos de melhoramento genético como esse”, diz Emiko Resende, pesquisadora da Embrapa Pantanal que chefia o trabalho.

Embora pareça fácil, encontrar exemplares distantes geneticamente pode ser bem trabalhoso. Sobretudo no caso da cachara (Pseudoplatystoma reticulatum), um peixe de couro (sem escamas), com baixo teor de gordura e sem espinhas intramusculares.

“A cachara é como o salmão: tem identidade de origem. Toda a bacia hidrográfica do Pantanal tem a sua família. Por isso, é mais difícil e trabalhoso”, disse Resende.

GORDINHOS

Em dois anos de existência, o projeto já conseguiu um resultado expressivo: diminuiu em até três meses o tempo necessário para que as tilápias cheguem ao peso ideal de abate.

A linhagem de tilápia (Oreochromis niloticus) usada no Aquabrasil é oriunda da Malásia. Ela é conhecida como Gift (sigla em inglês para tilápia geneticamente melhorada para a criação) e já se adaptou bem ao país.

Antes, dependendo das condições climáticas e dos recursos de criação de alevinos, a espécie de peixe demorava até seis meses para o ganho completo de peso.

“Quando conseguimos melhorar a espécie, as outras coisas caminham juntas. Se nós diminuímos o tempo de criação de alevinos, o que se gasta com ração e outros cuidados também é reduzido. E isso é fundamental para baratear a produção”, disse Resende.

E os produtores não precisam esperar muito. Após uma etapa de melhoramento ser concluída com sucesso, seus exemplares já são disponibilizados para criadores.

RAÇÃO VIP

Os cientistas trabalham para potencializar o ganho de peso. O objetivo é que cada geração melhorada de Gift seja 15% mais pesada. O projeto também está trabalhando no melhoramento das rações. Além de influírem diretamente no processo de engorda, se usadas incorretamente, elas também podem dar um gosto ruim à carne.

“Aquele gosto de barro que muitos peixes de criação têm é provocado principalmente pela ração que não foi totalmente absorvida e acabou sobrando na água”, afirmou Resende.

Como um dos objetivos do projeto também é criar uma cadeia sustentável de produção, os pesquisadores estão investindo no aproveitamento total dos animais.

Depois de retirado o filé, são usadas máquinas especiais que conseguem separar o que sobra de carne das espinhas. Esse material é usado para fazer produtos com valor agregado, como kibes e hambúrgueres de peixe.

As vísceras podem virar ingredientes para ração ou material usado em adubo.

“Estamos trabalhando para levar essas técnicas ao produtor. Queremos que sejam aproveitadas tanto pelos grandes quanto pelos pequenos criadores”, completa Emiko Resende.

 

Fonte: Folha