Estudo coletou quase 4 mil peixes de 36 espécies para análise. Também foram analisados efeitos das barragens construídas nos rios.
O aquecimento das águas nas regiões agrícolas da região amazônica causado pelo desmatamento, tem resultado na diminuição do tamanho de algumas espécies de peixes, segundo um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) na região de Canarana, a 838 km de Cuiabá. A tese de doutorado, desenvolvida no Instituto de Biociências (IB), da Universidade de São Paulo (USP), coletou quase 4 mil peixes de 36 espécies nas cabeceiras do Rio Xingu.
O ecólogo Paulo Ricardo Ilha Jiquiriçá, autor da pesquisa, observa a região desde 2006 com estudos dos efeitos da conversão de florestas em áreas agrícolas sobre assembleias de peixes. Em sua tese de doutorado, analisou os efeitos do desmatamento e construção de barragens nos rios no desenvolvimento da diversidade dos peixes.
“Percebemos que o tamanho corporal dos peixes nos riachos em áreas agrícolas era significativamente menor em comparação com os riachos em áreas de florestas”, disse o pesquisador.
A pesquisa de campo foi realizada na Fazenda Tanguro, região entre os municípios de Querência e Canarana, a 912 e 838 km de Cuiabá, teve início em 2012 e durou cerca de 18 meses. O cientista fez coletas em seis riachos, sendo três localizados em áreas de florestas e outros três em áreas agrícolas.
Em Mato Grosso, recebeu o apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e recursos financiados pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Foi orientado pelo professor Luis Cesar Schiesari, do curso de Gestão Ambiental da Escola de Artes Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
Os afluentes do Rio Xingu avaliados, Tanguro e Darro, estão localizados em uma das regiões de intensa produção de soja e desmatamento amazônico. Segundo o pesquisador, foi observada a destruição das matas ciliares e a contrução de mais de dez mil represas.
O tamanho das espécies de peixes é fundamental para a manutenção da biodiversidade. “O tamanho determina a capacidade de competição por alimento e influencia na cadeia alimentar”, contou.
Experimento
Medições feitas no estado mostraram que a diferença de temperatura das águas nos riachos de florestas ainda não foram alterados em suas características e os que estão em áreas agricolas é de até 9° C. “É provável que o aquecimento da água seja responsável, ao menos em parte, pela redução de tamanho dessas espécies”, analisa.
Em experimentos no laboratório no Departamento de Fisiologia do IB, em colaboração com o professor Carlos Arturo Navas Ianini, ele comprovou que os peixes criados em temperatura semelhante às dos riachos agrícolas perderam massa e diminuíram de tamanho. Já os peixes criados em temperatura semelhante a dos riachos de florestas cresceram.
Segundo a pesquisa, quatro das seis espécies mais presentes nos riachos diminuíram de tamanho, entre 44% e 57%, nas áreas agrícolas. Pelo menos três espécies de ‘piabas’ que eram comuns em trechos de água corrente não foram encontradas em trechos represados. Em contrapartida, uma espécie de rivulídeo, que mede menos de 4 centímetros aumentou em quantidade nos riachos agrícolas.
Após o desmatamento das matas ciliares dos riachos, as características naturais foram modificadas. A profundidade dos córregos ficou menor e o predador dos ruvilídeos não consegue alcançá-los. Com a cadeia alimentar alterada, esses pequenos peixes conseguem se ploriferar, disse o pesquisador.
“Minimizar as barragens, preservar e restituir a mata ciliar é fundamental para a conservação da fauna de peixes na região amazônica. É possível que os dados coletados na pesquisa seja uma resposta geral ao desmatamento nos rios da Amazônia”, pontuou.
Fonte: http://g1.globo.com/