Barroquinha. Localizado há quase 400 quilômetros de Fortaleza, o município faz parte da Área de Preservação Ambiental (Apa) do Delta da Parnaíba, com o distrito de Bitupitá, há 24 quilômetros da sede. Com cerca de sete mil habitantes, o lugar hoje sobrevive quase exclusivamente da pesca, tendo 192 embarcações registradas e mais de dois mil pescadores que vão diariamente ao mar com técnicas completamente artesanais.
A pesca é o único meio de emprego e renda para os que vivem no lugar fotos: Jéssyca Rodrigues
Um dos meios mais usados em Bitupitá é o Curral de Peixes, que prende os animais em uma armadilha durante a maré alta. Com isso, os vaqueiros de currais, como são chamados os pescadores que trabalham com este tipo de técnica, têm facilidade de tirar o animal na maré baixa.
Mas para construir um curral é preciso ter um alto investimento. Segundo o presidente da Colônia de Pescadores de Bitupitá, Jonas Veras, o recurso aplicado é de aproximadamente R$100 mil para um primeiro curral. Do segundo em diante, a manutenção fica em torno de R$ 30 mil.
“A compra do material mais pesado, licenciamento, contratação de pessoal para marca o local, tudo isso demanda um forte investimento que os pequenos pescadores não têm como fazer. O curral dura em média sete a oito meses. Depois, o curral é retirado e se preciso, passa por manutenções”, explica Veras.
Na vila de pescadores, existem dois tipos de curral, chamados de curral de fora e curral de terra. A diferença entre eles é que um é construído próximo da costa e outro em alto mar. “Hoje, quase todos são currais de terra. Antigamente, era mais de dez milhas de distância da costa”, lembra Veras, que trabalhou mais de 40 anos como pescador e há 20 é responsável pela colônia de pescadores.
Procedimentos
Para a construção dos currais é preciso um documento de licenciamento de terra no mar autorizado pela capitania dos portos local, em Camocim. Depois há as despesas com materiais e mão de obra. Já a madeira provem do Piauí ou Maranhão e legalizada pelos órgãos responsáveis.
“Quem vai construir um curral precisa contratar alguém que saiba marcar o local. Profundidade, época do ano, maré e correntezas são as maiores influências. Aqui, essas técnicas foram passadas de pai para filho”, diz Veras.
Os pescados são descamados pelos pescadores locais de forma bem artesanal, com uma grande espátula de madeira, semelhante a um cabo de vassoura. Em dias de boa pescaria em Bitupitá é possível pescar cinco toneladas de peixe
A média de construção é de um mês ou mais. Primeiro se marca o terreno com a “planta” do curral. O próximo passo é fixar os mourões no fundo do mar, com um mergulhador segurando uma das pontas embaixo d´água e outro batendo em cima.
Depois são fixadas as telas de arames ou nylon por toda a arapuca, deixando uma entrada única para os peixes. “Rede, mourão, canoas, são materiais que podem ser reutilizados. A rede custa em média R$8 mil, a canoa R$15 mil. Só o banco para tecer custa R$ 2 mil”, explica Veras.
Finalizada essa etapa, é feita uma cerca de madeira com mais de 100 metros de barreiras para que os peixes entrem na armadilha e não possam sair. “Já vi currais darem mais de R$250 mil nesses seis meses que ele produz”, revela o presidente da Colônia de Pescadores de Bitupitá.
Os pescadores ganham 25% da produção do curral para o qual trabalham. Em cada um trabalham uma média de quatro pescadores. Segundo Veras não há um parâmetro de dia de pagamento. Pode ser por mês, ciclo de vida do curral ou ano. “Essa é uma das coisas nós da colônia queremos regularizar”, explica o presidente da entidade. Para a manutenção do peixe de curral, a técnica também é artesanal. Depois de pescados, são levados em carrinhos de mão até o local de conservação, onde as mulheres, principalmente esposas e familiares de pescadores, trabalham na limpeza.
“Hoje, além de pescadores formalizados com direito aposentadoria, temos também quase o mesmo tanto de mulheres que se enquadram na profissão da pesca”, ressalta. Após a limpeza, os peixes ficam 24 horas na salmoura e é lavado no mar. Dali, eles ficam de dois a três dias no sol, em um varal feito de madeira.
“Nosso peixe é hoje levado para quase todas as cidades do Ceará, mas nossas principais compradoras são Camocim, Chaval e Acaraú. Porém, uma das nossas grandes dificuldades hoje são os atravessadores. Eles compram todos os peixes e revendem para a comunidade por um preço mais alto”, frisa Veras.
Existem dois tipos de curral, de fora e de terra. A diferença é que um é construído próximo da costa e outro em alto mar. Após a limpeza, os peixes ficam 24 horas na salmoura e são lavados no mar. Dali, eles ficam de dois a três dias no sol em um varal
O camurupim, por exemplo, nas mãos de quem pesca é vendido a R$8,50 o quilo, mas o consumidor final paga R$15,00, inclusive o próprio pescador que tirou o peixe do mar. Ele é um peixe de escamas grandes, com corpo comprido. Dentro dos currais são comuns pegar alguns com mais de dois metros e acima de 70 quilos.
Outro ponto lembrado pelo presidente da Colônia de Pescadores local é o turismo na região. Mesmo com águas calmas, praia limpa e calma, Veras destaca que a estrada que liga o distrito ao Município tem prejudicado o turismo na região.
“Temos uma praia linda que muitos ainda não conhecem porque é difícil andar mais de 20 Km na estrada de piçarra. E o turismo seria mais um avanço para a nossa comunidade, pois valorizaria nossos produtos da pesca, nossas barraquinhas na beira da praia e outros setores do pequeno comércio que tem aqui”, ressalta Veras.
De acordo com a chefe de Gabinete da Prefeitura Municipal de Barroquinha, Iolanda Fernandes Gomes, o projeto para asfaltar a estrada que liga sede e distrito já foi licitada e deve iniciar as atividades em fevereiro.
Mais informações:
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JÉSSYCA RODRIGUES
COLABORADORA
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com