Como criar camarão-de-água-doce

Como criar camarão-de-água-doce
A criação do crustáceo também tem boa adaptação ao sistema integrado de cultivo com peixes (Foto: Fábio Rosa Sussel/ Divulgação)

A quicultores brasileiros têm na criação de camarão-de-água-doce uma opção para realizar o manejo do crustáceo em qualquer lugar país adentro. Sem se limitar à costa litorânea, a prática em tanques escavados permite a pulverização da atividade pelo interior do território nacional, reduzindo custos logísticos e obtendo preços mais competitivos para as vendas do produto no comércio local.

Pequenos produtores e com pouca experiência, inclusive, podem se beneficiar da criação fazendo dela uma fonte de renda extra. Lidar com o camarão-de-água-doce não tem muitas exigências e o seu manejo pode ser realizado em sítios e chácaras, desde que tenham condições adequadas, como espaço para um ambiente aquático e temperatura da água acima de 20°C durante, pelo menos, seis meses consecutivos.

Em cativeiro, é comum o uso de viveiros escavados com o fundo natural de terra, área na qual o crustáceo habita e também se alimenta. Sem sistema de drenagem eficiente, represas e açudes são opções descartadas, pois precisam ser esvaziados para realizar a despesca total – retirada de todos os camarões no fim da fase de engorda.

No entanto, caso ainda não tenha na propriedade, a construção de tanques deve ser providenciada, sendo que a obra implicará uma recuperação do capital investido a longo prazo. Terreno plano, com solo argiloso e disponibilidade de água corrente e de qualidade são outros fatores importantes para o sucesso do manejo.

A criação do crustáceo também tem boa adaptação ao sistema integrado de cultivo com peixes, diversificando a produção e ampliando as oportunidades de mercado ao empreendedor.

No policultivo, o camarão-de-água-doce ainda consome parte dos resíduos gerados pelos peixes e os restos de ração, sem a necessidade de alimento específico em viveiro com três a seis camarões por metro quadrado.

Apesar da possibilidade de viver em todas as regiões brasileiras, o camarão-de-água-doce não é recomendado onde o inverno se prolonga por vários meses. Os custos com alimentação e mão de obra são os que mais pesam, já que a ração tem preço elevado e os tanques precisam de manutenção constante. Contudo, considerado de carne nobre, o crustáceo tem valor comercial alto.

Entre cinco e seis meses de vida, o camarão atinge de 25 a 30 gramas, peso ideal para iniciar a comercialização. Pós-larva, resultado da evolução das ovas em dois meses, é outro produto que serve para abastecer novos criadores. Atualmente, o mais indicado para cativeiro é o camarão-da-malásia (Macrobrachium rosenbergii), que tem sabor mais leve em relação ao camarão de água salgada. Também conhecido como pitu e lagostim-de-água-doce, tem produção destacada nos Estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo.

Mãos à obra

>>> INÍCIO A recomendação para iniciantes é adquirir de laboratórios comerciais camarões na fase de pós-larva, com cerca de 1 centímetro de comprimento, quando estão prontos para serem levados para os tanques de recria. O processo de larvicultura, no qual as larvas desovadas precisam ser mantidas em água salobra por cerca de 30 dias até ocorrer a metamorfose para as pós-larvas (correspondente aos alevinos), é tecnicamente complexo e exige altos investimentos.

>>> AMBIENTE Ideal com temperatura elevada, entre 28 ºC e 30 ºC, pois o camarão-de-água-doce não tolera abaixo de 15 ºC. São importantes para o manejo fatores como água de boa qualidade, abundante e com renovação, pH entre 7 e 9, dureza de 20 a 150 miligramas por litro e transparência de 20 a 40 centímetros; terreno com, no máximo, 5% de declive e solo argiloso.

>>> TANQUES Dê preferência para viveiros escavados com fundo de terra. Podem ter área variável entre 250 e 5.000 metros quadrados e profundidade de 90 centímetros a 1,3 metro.

>>> POLICULTIVO É uma alternativa para incrementar a rentabilidade da criação. Dentro do mesmo viveiro, camarões e espécies não carnívoras como tilápia, carpa-comum ou prateada e peixes ornamentais podem ser criados livremente em espaços diferentes ou com instalação de tanques-redes para confinamento dos peixes. Proteja os crustáceos de predações povoando o viveiro com as pós-larvas do crustáceo, no mínimo, 15 dias antes da estocagem com as demais espécies.

>>> CUIDADOS A densidade de estocagem do camarão-da-malásia não pode ser muito elevada, devido ao risco de canibalismo da espécie. Para o monocultivo, recomenda-se de oito a 12 pós-larvas por metro quadrado. No policultivo, deve variar entre três e seis camarões por metro quadrado. A adubação química ou orgânica dos viveiros periodicamente contribui para a existência de micro-organismos no fundo do viveiro.

>>> ALIMENTAÇÃO O camarão- de-água-doce gosta de comer tanto animais quanto vegetais. Porém, forneça rações peletizadas ou extrusadas de alta densidade para camarões marinhos. Como afundam, facilitam para os camarões que se alimentam somente no fundo do viveiro, onde também consomem como um complemento barato micro-organismos bentônicos – crustáceos, moluscos, larvas de insetos aquáticos, entre outros.

>>> PRODUÇÃO Adote a despesca seletiva a partir do quarto mês depois do povoamento. Aos seis meses de criação, realize a despesca total. Em seguida, lave os camarões por dois minutos em solução de cloro a 5 miligramas por litro de água limpa. Para um choque térmico, faça a imersão deles em água gelada. Perecíveis, os crustáceos podem ser mantidos em gelo por, no máximo, dois a três dias e a uma temperatura de cerca de 0 ºC. Além desse prazo, devem ser submetidos a um congelamento rápido e permanecer à -20 ºC por até seis meses.

*Marcello Villar Boock é doutor em aquicultura e pesquisador científico da UPD de Pirassununga, Polo Apta Centro-Leste, Rua Virgílio Baggio, 85, CEP 13641-004, Pirassununga (SP), tel. (19) 3565-1200, marcelloboock@apta.sp.gov; e Helcio Luis de Almeida Marques, doutor e pesquisador científico do Instituto de Pesca, Av. Francisco Matarazzo, 455, Parque da Água Branca, Caixa Postal 61070, CEP 05001-970, São Paulo (SP), hlamarques@gmail.com

Raio-X

Criação mínima: 100 milheiros de pós-larvas para povoar 1 hectare de espelho d’água
Custo: pode variar de R$ 20 mil a R$ 50 mil por hectare de espelho d’água, dependendo da infraestrutura existente na propriedade
Retorno: pode chegar a 7 anos, mas geralmente é de 4 a 5 anos entre os investimentos mais altos
Despesca: a seletiva ocorre a partir de 4 meses e a total aos 6 meses de criação

Onde adquirir: Aquicultura PL Brasil, Piedade (SP), tels. (15) 98127-7999 e (15) 99712-2124; contato@caminhodasaguas.com; Fazenda Santa Helena, Silva Jardim (RJ), tels. (22) 2668-0414, (22) 9930-3235, (21) 8181-0589 e (27) 8165-0836, pointcamarao@gmail.com; Cooperativa dos Aquicultores do Espírito Santo, São Domingos (ES), ceaqcooperativa@ig.com.br, inespandolfi2006@yahoo.com.br, tel. (27) 3742-1065; e gtcad.wordpress.com/tag/venda-de-pos-larvas/

Mais informações: Criação de camarão de água doce. Mallasen, Margarete. Editora Funep, www.funep.org.br/visualizar_livro.php?idlivro=173

Fonte: http://revistagloborural.globo.com