Com bacalhau mais caro, tilápia deve ganhar espaço na mesa da Semana Santa

Cadeia produtiva do pescado espera vendas até 10% maiores do peixe neste período em relação ao ano passado, com o consumidor encontrando preços semelhantes aos praticados no Natal de 2020

Em situação diferente de diversos outros alimentos, como a carne bovina, que tiveram fortes aumentos, os peixes de criação estão com os preços praticamente estáveis, semelhantes aos vistos ainda no Natal de 2020. Exceção feita aos importados, que sofrem influência da alta do dólar, afirmam representantes do setor. Diante da situação, a expectativa é de que produtos tradicionalmente mais consumidos na época da Páscoa, como o bacalhau, tendem a perder espaço na mesa para outras opções.

“Os preços do peixe nacional de outubro, novembro e dezembro de 2020 permanecem praticamente estáveis para a Páscoa de 2021”, afirma o presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Pescados (Abipesca), Eduardo Lobo.

Entre as alternativas, a tilápia, que representa 60% da aquicultura no Brasil, deve ser protagonista na mesa da Semana Santa dos brasileiros. O preço é o principal fator de acordo com números do setor. O peixe varia de R$ 35 a R$ 45 o quilo, enquanto o bacalhau está com o quilo variando de R$ 55 a R$ 75 no varejo brasileiro.

A expectativa do presidente da Associação Brasileira da Piscicultura (Peixe BR), Francisco Medeiros, é de um aumento de 10% a 13% nas vendas de tilápia durante o período da quaresma. “Esse ano, a opção do pescado e do peixe de cultivo foi mais por questão de preço do que religiosa”, afirma Medeiros.

A Abipesca também prevê um crescimento de 10% no comércio de pescados processados em relação ao ano passado – memso com as restrições de mobilidade adotadas em função da pandemia no Brasil – impulsionado pelos novos hábitos do consumidor.

Eduardo Lobo explica que a população brasileira tem incrementado o consumo à medida que a oferta de pescados é contínua, os preços mais estáveis e a qualidade assegurada pela produção nacional tanto nas espécies de captura quanto as processadas pela indústria.

“Além dos preços, a escolha pela tilápia vem pelo aspecto da saúde e pela troca de proteína animal. Com a carne bovina em patamares altíssimos (de preços), temos um pescado nacional com uma oferta constante e uma qualidade muito boa que vem substituindo gradativamente a carne”, explica Lobo.

Exportação


Quarto maior produtor de tilápia do mundo, o Brasil planeja reverter o embargo de exportação para a União Europeia que vigora desde 2017. Uma missão europeia, em visita ao Brasil, identificou, na época, uma não conformidade nos barcos de pesca.

“Já estamos no terceiro ano de suspensão das exportações de peixes de cultivo, especialmente de tilápia e seus subprodutos, decorrente de não conformidade em barcos de pesca que em nada diz respeito à piscicultura”, relata o presidente executivo da Peixe BR, Fernando Medeiros.

Este mês, a entidade encaminhou à ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, um ofício solicitando apoio para habilitação dos frigoríficos de peixes de cultivo no Brasil para exportação ao bloco.

Segundo Medeiros, a piscicultura não pode intervir na pesca para atender aos pedidos de conformidade nos barcos exigidos pela União Europeia. “Temos condições de expandir o mercado interno e ainda exportar o excedente. No ano passado, crescemos 13%, mas poderia ser de 20% a 25% se pudéssemos exportar para a União Europeia”, afirma.

Além disso, de acordo com Medeiros, Israel, que é o quarto maior importador de tilápia do mundo, utiliza o protocolo sanitário da União Europeia, o que inviabiliza mais um potencial mercado comprador do Brasil. Atualmente, a China atende 100% da demanda europeia pela espécie.

Além do peixe, 100% da pele de tilápia era exportada para Europa, direcionado ao mercado farmacêutico e dermatológico. Esse volume, antes vendido a 1 euro por quilo (cerca de R$ 6,50), agora é direcionado a farinheiras no Brasil, que pagam cerca de R$ 0,30 o quilo.

Com a expectativa de que as negociações sejam favoráveis e os embarques de tilápia sejam retomados até o último trimestre deste ano, a Abispeca estima um crescimento de 20% no setor em 2021. Eduardo Lobo também destaca que o país tem condições de exportar, ainda este ano, mais de US$ 100 milhões, com a reabertura do segundo maior mercado importador de peixes, atrás apenas dos Estados Unidos. 

“Baseado no cenário nacional favorável, haja vista que a pandemia se mostra mais controlada no mundo asiático e nos Estados Unidos, e as demandas que estavam reprimidas voltarem a acontecer, o mundo vai precisar de pescados e um dos países que tem condições de atender com pescado de captura é o Brasil”, destaca Lobo.

Fonte: https://revistagloborural.globo.com