Na contramão do pessimismo econômico que vem se abatendo em alguns setores da economia, a carcinicultura do Ceará está em pleno crescimento e planeja retomar as exportações para a França neste segundo semestre
Com a expectativa de que este ano feche com uma produção de 40 mil toneladas de camarão no Ceará, o incremento no setor deve ser de 40% na comparação com o volume produzido no ano passado
De acordo com Cristiano Peixoto Maia, presidente da Câmara Setorial da Carcinicultura – órgão vinculado à Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece) – e da Associação Cearense dos Criadores de Camarão, no primeiro semestre deste ano a produção de camarão em todo o Estado foi de cerca de 20 mil toneladas, devendo chegar a 40 mil toneladas até o final de 2013.
“Essa produção representa um incremento de 20% na comparação com o volume produzido no ano passado”, afirma o empresário, que aguarda uma expansão ainda maior a produção cearense nos anos seguintes para acompanhar a ampliação crescente da demanda.
O crescimento da carcinicultura cearense tem impactado também na geração de empregos. “Até 2012 tínhamos (o setor) em torno de 12 mil empregados. Em 2013, nossa perspectiva é fechar o ano com 15 mil empregos”, projeta Cristiano.
O titular da Câmara Setorial da Carcinicultura afirma que a demanda francesa surgiu com a diminuição da produção no Vietnã e na Tailândia
Consumo
Dados do setor indicam que, no Brasil, o consumo per capita é de meio quilo de camarão por ano. Enquanto a Europa consome 12 quilos per capita/ano. “O potencial de crescimento do consumo interno do País é muito grande. E o nosso papel é estimular o aumento desse consumo”, destaca o empresário.
Conforme informou Cristiano, além do desafio de continuar atendendo ao mercado interno, o camarão cearense se prepara para retornar à mesa dos consumidores franceses. “Até 2006 exportamos muito camarão para a França. Depois eles passaram a consumir o produto dos países asiáticos. Mas, agora, devido à diminuição da produção de camarão no Vietnã e na Tailândia, eles voltaram a nos procurar”, informa.
Negociação
Segundo o líder setorial, a exportação do camarão cearense está em fase de negociação. “Se o Ceará decidir mesmo exportar para a França será uma quantidade pequena. Só para manter aberto o mercado lá fora”, garante Cristiano.
Ele explica que, além da opção em manter o foco no mercado interno, os produtores cearenses de camarão esbarram no valor que é oferecido pelo mercado francês. “O preço que estão nos oferecendo é ainda mais baixo do que (o valor oferecido) aqui no Brasil. Acreditamos que eles ainda vão aumentar o valor da oferta”, estima.
Preço
De acordo com o titular da Câmara Setorial e da Associação Cearense dos Criadores de Camarão, na Europa, o valor oferecido pelo quilo do produto é de R$ 16,00.
“Na fazenda, o quilo do camarão de 11 gramas custa R$ 12,00, mas a gente ainda gasta mais R$ 6,00 na logística de transporte. Então, não compensa. Por isso, se exportarmos para a França será, no máximo, 30% da nossa produção. A maior parte será destinada ao mercado interno”, afirma.
Mercado interno
O mesmo tipo de camarão (11 gramas) no mercado interno, segundo Cristiano Maia, chega ao consumidor final em torno de R$ 18,00 a R$ 20,00 o quilo.
Seca gera impacto negativo no cultivo da tilápia
O cultivo da tilápia no Ceará deve reduzir aproximadamente 17% em relação ao ano passado. A expectativa para 2013 é que a produção feche em 25 mil toneladas – cinco mil toneladas a menos em comparação com 2012, quando a produção chegou a 30 mil toneladas. Em 2011, o setor contabilizou 20 mil toneladas.
O Ceará perdeu a liderança na produção do produto no ranking nacional. Hoje, o Estado ocupa o quarto lugar da lista, ficando atrás de São Paulo, Paraná e da região do Rio São Francisco, no Nordeste brasileiro.
A redução de água nos açudes cearenses, provocada pela falta de chuva, contribuiu fortemente para que o segmento fosse atingido. Além da seca, o aumento dos insumos é outro fator que impacta diretamente na queda da produção. Mas esses não são os únicos entraves do setor, segundo o presidente da Associação Cearense de Aquicultura (Aceaq), Camilo Diógenes.
“Um grande entrave que enfrentamos no Ceará é a liberação de áreas pertencentes à União para ampliar a produção de tilápia”, afirma. Segundo Diógenes, 70% das águas represadas no Estado são de domínio da União, necessitando de outorga para serem utilizadas. “Nos 30% pertencentes ao território cearense não temos problema. Estamos utilizando bem a capacidade dos açudes do Estado. Mas nos outros 70%, temos solicitações há mais de cinco anos pendentes na ANA (Agência Nacional de Águas)”.
Dificuldades
O entrave, segundo ele, se deve a falta de escritório regional do órgão, que concentra todas as outorgas do País no escritório de Brasília. “Precisamos destravar essa situação. Já pensando numa solução, sugerimos a realização de um convênio entre a ANA e a Cogerh, para agilizar as liberações, terceirizando as outorgas para a Cogerh em nosso estado”, antecipa.
A queda na produção cearense devido a soma de todos esses fatores fez com que o Ceará perdesse a posição de liderança na produção nacional. Até 2011, o Ceará liderava a produção da tilápia no Brasil. Hoje, o Estado ocupa o 4º lugar, atrás de São Paulo, Paraná e da região do Rio São Francisco, no Nordeste brasileiro. “Nesse mesmo período, São Paulo aumentou sua produção de 15 mil toneladas para 60 mil toneladas de tilápia/ano. Isso porque o estado aumentou sua área de cultivo”, justifica.
Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a média mundial do consumo de pescado é de 18 quilos por habitante/ano. No Brasil, o consumo ainda é baixo, atingindo a média de 9,6Kg/hab/ano, de acordo com o Ministério da Pesca e Aquicultura. Especificamente no caso da tilápia, conforme a Aceaq, o consumo ainda é inferior à média de pescado em geral, em torno de meio quilo por habitante ano.
Produção
O Ceará hoje responde por apenas 10% da produção de tilápia em cativeiro, muito pouco diante do grande potencial que o Estado possui. A atividade no Ceará tem um perfil familiar e empresarial, formada por micros, pequenos e médios produtores.
Os maiores compradores do produto ainda são os supermercados, barracas de praia, feiras livres e peixarias. Os polos produtores de tilápia estão concentrados em Orós, Região do Alto Jaguaribe e no Açude Castanhão, onde está localizado o grande viveiro da produção. A tilápia também é cultivada em Sobral, Região Norte do Estado, e na Bacia do Curu.
Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br/