Brasil conhece o seu primeiro censo aquícola

Brasil conhece o seu primeiro censo aquícolaO censo – o primeiro desenvolvido no Brasil especialmente para este setor – acaba de ser disponibilizado para o público pelo Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA).

Como uma fotografia, o censo registra da forma mais completa possível as atividades aquícolas e as suas interações socioeconômicas, considerando o número e o porte das unidades produtivas, o perfil dos produtores, bem como as espécies cultivadas e o detalhamento de toda a cadeia produtiva, incluindo os métodos de produção, as estruturas de cultivo (açude, viveiro, tanque-rede e canal de igarapé no Amazonas) e escoamento da produção. Todas as unidades de produção foram, também pela primeira vez, identificadas por georrefereciamento, ou seja, tiveram a sua exata localização conhecida.

“O Censo Aquícola Nacional é resultado de um trabalho inédito no país”,  recorda Américo Ribeiro Tunes, secretário de Monitoramento e Controle do MPA. “Pela primeira vez temos informações sobre a aquicultura com uma riqueza de detalhes que nos permitem saber exatamente quem são e onde estão os produtores aquícolas no Brasil, além de informações estratégicas sobre a cadeia produtiva, não só para o governo, mas para todo o setor”, afirma.

Instrumento de planejamento

Dedicado apenas a empreendimentos com finalidade comercial, o Censo Aquícola de 2008, mesmo com informações apuradas há mais tempo, se apresenta como um instrumento fundamental para a administração pública brasileira traçar políticas mais assertivas no fomento da aquicultura nacional. A publicação também é importante para o segmento empresarial conhecer melhor o mercado, assim como para pesquisadores e outros interessados. Aproximadamente 30 mil unidades de produção foram visitadas, das quais 19.494 consideradas, por terem objetivo comercial.

A coleta dos dados – desenvolvida pela Coordenação Geral de Monitoramento e Informações Pesqueiras do MPA – foi realizada em dois anos, entre outubro de 2009 a outubro de 2011. O trabalho mobilizou cinco coordenadores regionais, 28 coordenadores estaduais (no Amazonas foram 2 coordenadores) e 227 coletores de dados.

Foram identificados 15.469 produtores de pescado no continente, dos quais 13.495 de pequeno porte, 760 de médio porte e 33 de grande porte, além de mais de mil que não responderam a esse questionamento. Do universo de produtores, 8.855 criam tilápia, sendo 41% deles na região Sul, 31% na região Nordeste, 22% na região Sudeste, 3% na região Norte e 3% no Centro-Oeste.

Na área da maricultura foram registrados 1.585 produtores, dos quais 1.274 de pequeno porte, 183 de médio porte e 63 de grande porte, além de outros 65 que não responderam à pergunta.

Informações que surpreendem

Os dados para o Censo Aquícola de 2008 muitas vezes surpreenderam os coordenadores, como o achado de um tesouro. Assim, algumas informações, por serem  inusitadas, levaram os responsáveis a  novas checagens com a fonte para confirmação. Foram encontradas 62 espécies de peixes sendo cultivadas em água doce e 15 espécies de peixes na aquicultura marinha.

O trabalho registrou, por exemplo, uma grande quantidade de híbridos sendo cultivados no país, como tambacu (híbrido de tambaqui vs pacu), patinga (híbrido de pacu vs pirapitinga), tambatinga (híbrido de tambaqui vs pirapitinga) e jundiara (jundiá amazônico vs cachara). Também se verificou que na região Sul o cultivo de espécies nativas já estava bastante generalizado, apesar da tecnologia de cultivo ainda se encontrar em desenvolvimento. O levantamento mostrou que existem 537 criatórios de jundiá – peixe comum nos rios brasileiros – no Rio Grande do Sul e outros 481 em Santa Catarina. Em Goiás, a diversidade de espécies cultivadas foi maior que a imaginada. Os criatórios se dedicavam a peixes “redondos” – pacu, patinga, pirapitinga, tambacu  e tambaqui – e a outras espécies, como cachara e matrinxã. O robalo, peixe de água salgada e salobra, de carne branca e saborosa, também vem sendo criado no litoral de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte. Em alguns casos, o cultivo de robalo ocorreu, experimentalmente, em água doce. O cultivo de tarpão no Maranhão também é uma informação inédita, pois não havia registro do cultivo desta espécie no país. A apuração também verificou que criatórios de diversos estados abasteciam de pescado os pesque e pagues de São Paulo e Minas Gerais, tendo sido desenvolvido um serviço especializado no transporte de peixes vivos que termina por agregar valor ao produtor, proporcionando também grande diversidade de espécies nestes estabelecimentos. Por sua vez, o estudo revelou que 68% do cultivo de peixes ornamentais estavam concentrados em três estados (Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo).

Macroalgas

O Censo Aquícola de 2008 inovou ainda por identificar os produtores nacionais de macroalgas. O cultivo da alga marinha Gracilaria birdiae (Rhodophyta, Gracilariales) ocorreu no litoral do Ceará e do Rio Grande do Norte.  No litoral do Rio de Janeiro os produtores se dedicavam à espécie exótica Kappaphycus alvarezii (Rhodophyta, Soliariaceae). Estas algas vermelhas são importantes para as indústrias de extração de coloides como Carragenana e Agar.  As duas espécies de alga são vendidas geralmente secas e os seus derivados têm diferentes aplicações na indústria farmacêutica e alimentícia. Estes coloides são comumente encontrados em diversos produtos industrializados, atuando como agente espessante, estabilizante, gelificante e emulsificante. São empregados, por exemplo, em  gelatinas, geleias, carnes processadas, produtos derivados do leite, pasta de dente ou clarificante de cervejas.

Fonte: http://www.portaldoagronegocio.com.br/