Estiagem ameaça a piscicultura no Vale

Com mortes de peixes já relatadas, produtores têm buscado alternativas para evitar prejuízos

VALE DO TAQUARI | A seca prolongada causa problemas nas lavouras, pecuária, criações de aves e suínos, mas também em uma outra atividade que tem crescido na região nos últimos anos: a piscicultura. Para garantir o desenvolvimento dos peixes e a futura rentabilidade do negócio, é fundamental que os produtores possam contar com a água em abundância e de boa qualidade. No entanto, esses requisitos estão cada vez mais comprometidos, à medida que a capacidade dos açudes e reservatórios diminuem.

Maior produtora de peixes do Vale do Taquari com 150 toneladas anuais e de diferentes espécies, Roca Sales já começa a sentir os efeitos do período sem chuva. De acordo com o secretário municipal de Agricultura e Desenvolvimento, Sandro Klapper, os níveis dos reservatórios estão baixando diariamente. Para tentar salvar a produção, alguns piscicultores estão secando os viveiros antes da época prevista. Embora não saiba informar a quantidade exata, o titular da pasta confirma que já houve mortes de peixes em 15 propriedades rurais, principalmente em razão da falta de oxigênio nos locais de criação.

Com a menor produção e para compensar os prejuízos, Klapller acredita que a tendência para as próximas semanas é de aumento no valor do produto comercializado em feiras e supermercados. O ápice dessa escalada pode ocorrer às vésperas da sexta-feira da Paixão de Cristo, que em 2020 será no dia 10 de abril, quando a demanda costuma crescer em relação aos demais períodos do ano.

Cenário preocupa

O piscicultor Deonésio Zacaria, de Sério, que comercializa carpas na Feira do Produtor de Lajeado, relata que o panorama é bastante complicado, pois em alguns locais do município os açudes secaram completamente e houve perda. Caso o clima seco se estenda por mais um mês, por exemplo, o cenário será desastroso. Tão ruim quanto a ausência de água são os dias em que não há vento. O ar ajuda a oxigenar os açudes e dá uma sobrevida aos peixes. Por isso, o uso de aeradores tem sido intensificado, visto que essa é a principal função do equipamento. O dispositivo também permite ampliar a estocagem de peixes por metro quadrado, o que contribui para o aumento da produção.

Outro problema ocasionado pela estiagem é a baixa qualidade do milho, capim e pastagens, que servem de alimento para os peixes. “Como pouco se tem aproveitado desses itens, nós não conseguirmos tratar as carpas e outras espécies da maneira ideal. Também temos de ter controle sobre a dieta dos animais, sem exageros tampouco substituições que possam vir a lhes causar problemas e até mesmo levar a óbito”, analisou Zacaria. No caso das carpas, algumas espécies são mais resistentes que outras, por isso são necessários diversos procedimentos para adaptá-las ao ambiente e às atuais condições climáticas, a fim de garantir seu desenvolvimento. Para a Semana Santa, a intenção da Associação dos Piscicultores de Sério, em acordo com a Emater/RS-Ascar, é manter os valores praticados atualmente.

A Emater/RS-Ascar salienta que o monitoramento é constante nas culturas de toda a região e pede atenção aos piscicultores, pois o momento exige cuidados redobrados nos açudes, a fim de garantir a boa alimentação dos peixes e evitar que morram asfixiados. Entre as recomendações estão a atenção ao nível da água, uso correto dos aeradores, acidez correta e adubação adequada. O conjunto dos fatores químicos pode fazer a diferença neste momento. Além disso, a entidade pede que qualquer caso de mortandade de peixes seja comunicada ao escritório municipal ou então para o regional. A sede em Lajeado atende 55 cidades e pode ser contatada pelo telefone (51) 3729-6113.

Fonte: https://www.informativo.com.br