Criação do robalo depende de tecnologia para ser mais viável

Crescimento lento para o abate ainda é desafio para os produtores serem mais competitivos no mercado.

A criação racional de peixes vem crescendo bastante no Brasil, principalmente com espécies de água doce, como a tilápia e a carpa. Agora, a pesquisa busca tecnologia para a criação em cativeiro de peixes marinhos. Já existem algumas espécies em estudo e uma delas é o robalo, um dos mais apreciados no Brasil.

São Paulo é a maior metrópole brasileira e um dos lugares onde mais se vende robalo no país. Nas peixarias do Mercado Municipal, ele tem lugar de destaque. É um peixe nobre, de carne clara, com pouca espinha e baixo teor de gordura. Fica bom ensopado, grelhado e até cru. Mas tem um defeito: o preço. O quilo é comercializado a R$ 38. Já o quilo do filé sai a R$ 80.

De olho nesse mercado, algumas universidades vêm tentando desenvolver tecnologia para criação do robalo em cativeiro. As primeiras pesquisas começaram há 10 anos, na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis.

O robalo é nativo das Américas. Aparece desde a costa dos Estados Unidos até o litoral sul do Brasil. Existem diversas espécies desse peixe, que pode chegar a um metro e meio de com comprimento e pesar mais de 20 quilos.

O robalo tolera o frio, mas prefere águas quentes, acima de 25 graus. Na natureza, nasce no mar e migra para áreas costeiras em busca de alimento. Carnívoro, come peixes menores e pequenos crustáceos. É um animal que gosta das áreas de estuário, onde os rios encontram o mar.

No laboratório, a pesquisa está mais concentrada no robalo peva. Periodicamente, os peixes são medidos e pesados pra avaliar o crescimento e o ganho de peso. E este é um dos gargalos da criação: o robalo tem crescimento lento. Para reduzir o tempo de engorda, a pesquisa começa a investir no melhoramento do robalo.

Assim como acontece com gado, frango ou qualquer outra criação, para ter sucesso no peso de abate é preciso genética. No Centro, é desenvolvido um trabalho para melhorar a qualidade dos peixes. A reprodução dos peixes é feita no laboratório e são selecionados os animais que mais cresceram. Então, de um lote, são selecionados 30 animais e de outro lote mais 60, 100 animais. Assim, chega-se a um lote de reprodutores com características de crescimento.

Na natureza, a reprodução do robalo acontece entre os meses de novembro e abril. Mas no cativeiro, normalmente, ele não se reproduz. Para multiplicar os peixes é preciso fazer a chamada indução hormonal. Um pouco de anestésico na água e os animais dormem. Aí recebem uma dose de hormônio.

E descobrir o sexo desse peixe não é fácil. Machos e fêmeas são praticamente iguais. E só se sabe quem é quem na época da desova. Isso porque no período da reprodução, os machos liberam sêmen sob uma leve pressão abdominal e as fêmeas apresentam um abdômen levemente abaulado e macio.

Em 36 horas, os peixes estão prontos para a coleta. Com uma leve massagem na barriga, o macho libera o sêmen e a fêmea solta os ovos. Uma fêmea de robalo deve produzir, para cada grama, uma média de três mil ovos. Algumas gotas de sêmen são suficientes pra fecundar milhares de ovos. Tudo é misturado com cuidado, lavado com água, levado para a incubadora.

No nascimento até mais ou menos 50 dias de vida, as larvas de robalo se alimentam de algas e de microorganismos de origem animal, os chamados rotíferos. Na fase seguinte, os peixinhos já começam a comer ração.

O robalo vem sendo criado no litoral de Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rio Grande do Norte. Em alguns casos, o cultivo ocorreu, experimentalmente, em água doce. A expectativa, com as pesquisas em curso, é que o mercado cresça ainda mais, tornando o preço do peixe mais acessível ao consumidor final.

Fonte: https://g1.globo.com/sp