A Aquicultura na América Latina e Caribe Uma ferramenta para a erradicação da fome e a diminuição da pobreza

A Aquicultura na América Latina e Caribe Uma ferramenta para a erradicação da fome e a diminuição da pobreza

A produção total mundial de pescado em 2009 atingiu 144,6 milhões de toneladas. Enquanto a pesca estabilizou-se em torno de 90 milhões de toneladas desde 2001, a aquicultura teve um crescimento anual médio de 6,1%, saindo de 34,6 milhões de toneladas em 2001, para 55,7 milhões de toneladas em 2009, o que representou um valor de US$ 105,3 bilhões (FAO, 2011).

A aquicultura, porém, ainda é uma atividade essencialmente asiática. Segundo a FAO (2011), a China, em 2009, liderou o ranking com 34,8 milhões de toneladas, disparada à frente da Índia, que na segunda posição produziu 3,8 milhões de toneladas; seguida do Vietnam, com 2,6 milhões de toneladas; Indonésia, com 1,7 milhão de toneladas; Tailândia com 1,4 milhão de toneladas e, Bangladesh, com 1,1, milhão de toneladas. Completando a lista dos dez maiores produtores do mundo, temos a Noruega, com 962 mil toneladas; o Chile, com 793 mil toneladas; o Japão, com 787 mil toneladas e, Mianmar, com 778 mil toneladas. Como se vê, oito dos dez maiores produtores mundiais, estão na Ásia. (Figura 1)

Figura 1: Os dez maiores produtores mundiais de aquicultura em 2009

A Aquicultura na América Latina e Caribe Uma ferramenta para a erradicação da fome e a diminuição da pobreza
Fonte: (FAO, 2011)

Em 2008, o continente asiático foi responsável por 88,8% da produção mundial da aquicultura, com 62,3% somente na China. O continente americano foi responsável por 4,6% da produção mundial, sendo que a América Latina respondeu por 3,3%, a América do Norte por 1,2% e o Caribe por 0,1%. A Europa produziu 4,5% da produção mundial, a África, 1,8% e a Oceania, 0,3%. A Figura 2 nos mostra como está dividida a aquicultura mundial por regiões em 2008, (SOFIA, FAO, 2010).

Figura 2: Aquicultura mundial por continentes (%)

A Aquicultura na América Latina e Caribe Uma ferramenta para a erradicação da fome e a diminuição da pobreza
Fonte: (FAO, 2011)

Sendo assim, é inconcebível a comparação entre a aquicultura praticada em qualquer país do mundo, com a praticada pelos asiáticos. Mas, como toda regra tem exceção, o Chile, na América Latina, e a Noruega, país nórdico na Europa, estão situados entre os maiores produtores mundiais.

Neste meu primeiro artigo como colaborador da revista Panorama da AQÜICULTURA, abordarei a atividade na América Latina e Caribe. Sinto-me seguro para escrever sobre este tema, já que tenho visitado diversos países desta região desde o ano de 2006, quando se constituiu o grupo formado pelos dirigentes da aquicultura em diversos países da América Latina e que mais tarde originou a RAA.

A Aquicultura na América Latina e Caribe

A aquicultura na América Latina e Caribe teve um crescimento médio de 15% nos últimos trinta anos, tendo atingido, em 2010, 1.932.917 toneladas, avaliadas em aproximadamente US$ 8 bilhões (INFOPESCA, 2012). Os principais países produtores nesta região em 2009 foram: Chile (793 mil toneladas, 8º maior produtor mundial), Brasil (415 mil toneladas, 15º maior produtor mundial), Equador (218 mil toneladas, 20º maior produtor mundial), e México (157 mil toneladas, 25º maior produtor mundial). (Figura 3).

A Aquicultura na América Latina e Caribe Uma ferramenta para a erradicação da fome e a diminuição da pobreza
Figura 3: Maiores produtores aquícolas da América Latina e Caribe (2009)
Fonte: FAO (2011)

Na América Central e no Caribe, no entanto, a aquicultura ainda é insipiente, apesar de trazer um grande atrativo e diferencial. Alguns países têm um bom potencial de cultivo para tilápias, peixes marinhos e camarões, e possuem tratado de livre comércio com os Estados Unidos, o que significa poder exportar, em boas condições de competitividade, produtos frescos para o maior mercado do mundo. Além do viés econômico, a aquicultura possui um enorme e importante papel social e na segurança alimentar e nutricional na América Latina, Caribe e África. Certamente esta atividade é uma grande ferramenta na luta contra a pobreza e a fome no mundo.

A contribuição do pescado na dieta média da população da América Latina e Caribe é muito modesta (9 a 11 kg/habitante/ ano), muito abaixo da média internacional de 17 kg/habitante/ano (CEPAL/ FAO/ IICA, 2011). Este mesmo documento nos remete para as outras importantes constatações nesta região: diminuição da pesca extrativa (vem diminuindo gradativamente nos últimos 40 anos); maior importância da aquicultura, porém a uma menor taxa de crescimento (no período 1999/ 2004 cresceu 13,3%, enquanto no período 2004/ 2009 cresceu 6,3%); nesta região, a América do Sul lidera a produção pesqueira (86,2%) e aquícola (83,6%); a aquicultura ainda é pouco desenvolvida em muitos países da região (dos 34 países que praticam aquicultura na América Latina e Caribe, 16 países produziram menos de 1.000 toneladas no período 2007/ 2009 e somente nove países produziram mais de 25.000 toneladas neste mesmo período); as enfermidades continuam ameaçando a aquicultura.

Assim, acredito que todas as entidades que trabalham para o desenvolvimento da aquicultura na América Latina e Caribe têm enormes desafios, dentre os quais, recomendar aos países da região que enfatizem seus apoios a esta atividade e garantam a segurança institucional (governança) à aquicultura, para que esta atividade tenha a mesma importância da agricultura.

A RAA já tem ajudado alguns países da América Latina e Caribe, especialmente na elaboração de seus planos nacionais de desenvolvimento da aquicultura, no fortalecimento das estruturas de apoio regional (INFOPESCA, COOPESCAALC, etc.) e na capacitação através de cursos, oficinas e intercâmbio de pessoal e de tecnologias. Agora, teremos desafios mais concretos. O Plano de Ação 2012/ 2014 nos traz desafios enormes e estruturantes, que são: proporcionar condições para que sejam implantados sistemas produtivos que garantam a sustentabilidade sócio-econômico-ambiental-institucional das comunidades beneficiadas (granjas demonstrativas); enfatizar a importância de uma assistência técnica voltada para a aquicultura de recursos limitados (AREL), com uma capacitação específica para os extensionistas; capacitação de pessoal nas formas de cursos, oficinas, seminários, e em nível de pós-graduação (Mestrado), especialmente em países que não têm esta disponibilidade.

Assim, teremos muito trabalho pela frente e disposição, motivação e inspiração para enfrentar estes desafios não nos faltam, principalmente quando sabemos que muito podemos contribuir para a erradicação da fome e a diminuição na pobreza na América Latina e Caribe.

Referências Bibliográficas:

CEPAL/ FAO/ IICA (2011). Perpectivas de la Agricultura y del Desarollo Rural em las Americas: uma mirada hacia América Latina y el Caribe, 2011-2012. San José, Costa Rica, 2011. 182p.

FAO (2011). Fishery and Aquaculture Statistics. FAO Yearbook, 2009. FAO Fisheries Department. Food and Agriculture Organization, Rome, 2011.81p.

FAO (2010). The State of World Fisheries and Aquaculture 2010. FAO Fisheries Department. Food and Agriculture Organization, Rome, 2010. 197p.

INFOPESCA (2012). 32ª Conferência Regional da FAO Buenos Aires, Argentina, 26 a 30 de março de 2012. Comunicação oral por Roland Wiefels (Diretor da INFOPESCA).

Fonte: http://www.panoramadaaquicultura.com.br